Explicaê

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A bagaceira, obra de José Américo de Almeida, publicada em 1928, é a precursora do moderno romance brasileiro do Nordeste. 

  O romance passa-se entre 1898 e 1915, dois períodos de seca. Valentim Pereira, sua filha Soledade e o afilhado Pirunga abandonam a fazenda do Bondó, na zona do sertão. Encaminham-se para as regiões dos engenhos, no brejo, onde encontram acolhida no engenho Marzagão, de propriedade de Dagoberto Marçau, cuja mulher, uma retirante, falecera por ocasião do nascimento do único filho, Lúcio. Passando as férias no engenho, Lúcio conhece Soledade e por ela se apaixona. 

  A história vai muito além, mas essas informações são suficientes para o entendimento do texto desta prova, extraído do primeiro capítulo. 

 

TEXTO II

 

  A mata fronteira, o padrão majestoso,  

estava acesa numa cor de incêndio. 

  Havia uma semana, surdira um toque  

estranho na monotonia da verdura. Dir-se-ia  

[50] um ramo amarelido à torreira da estação. 

  Dominava ainda a esmeralda tropical. Mas,  

com pouco, emergira o mesmo matiz em  

outro trecho vizinho, como um efeito de luz,  

um beijo fulgurante do sol em árvore favorita.  

[55] E, logo, o pau d’arco assoberbou a flora, como  

um banho de ouro na folhagem. 

  Nessa manhã luminosa a mata  

resplandecia com uma orgia de desabrocho  

em sua pompa auriverde. 

[60]   Sem a percepção da paisagem, com a  

sensibilidade obtusa e entorpecida aos  

primores da natureza, Dagoberto inquietava-

se, pela primeira vez, perante o ouro que 

frondejava. Parecia-lhe que o sol tinha  

[65] baixado sobre a selva fulva. 

  Era, talvez, a cor que lhe suscitara o  

interesse chambão. As pétalas áureas... 

  E semicerrou, novamente, os olhos  

descuriosos. 

[70]   Senão quando, foi despertado por uma voz  

sumida que o sobressaltou. Não notara o  

acesso de outro grupo de retirantes. 

  Importunavam-no os intrusos, cortando-

lhe o fio dos cálculos da colheita ou de alguma

[75] cisma transitória. 

  Pediam-lhe uma pousada. 

  Ele abanou a cabeça negativamente. 

  E os ádvenas quedaram-se esmorecidos  

pelo repouso momentâneo. 

[80]   Saiu para enxotá-los [...] 

  E esbravejou: 

  — O que já disse está dito!! 

  Nisto, desmontou-se uma rapariga e, com  

a vozita soprara: 

[85]   — Se o senhor pudesse mandar alcançar-

me um pouco d’água...

  Ele examinou-a através das pestanas  

cerdosas e ficou com a fisionomia suspensa,  

como quem reconstitui uma visão ou evoca  

[90] um fato. 

  — Milonga, olha aqui! 

  E, enquanto a retirante segurava o copo  

com os dedos mirrados, interpelou, indicando  

um rapaz que a acompanhava: 

[95]   — São irmãos? 

  — Senhor não; mas, é como se fosse — 

respondeu o mais velho que procurava  

esconder a cara na barba intonsa.

  Seguiram caminho. 

[100]   — Manuel Broca! Ma-nuel! 

  Chegou o feitor. E Dagoberto, apontando o  

grupo que se distanciava: 

  — Arranche aquela gente. 

  E entrou a ir e vir, em longos passos  

[105] frouxos, no seu hábito de marchar para um  

ponto que lhe estava mais na imaginação do  

que no espaço. 

José Américo de Almeida. A Bagaceira. pág. 7-9.

 

Atente ao trecho que vai da linha 46 à linha 65 e ao que se diz sobre ele.

 

I. Infere-se que o “toque estranho” (linhas 48- 49) quebrou a monotonia da paisagem toda verde.

II. A expressão “o mesmo matiz” (linha 52) refere-se, indiretamente, a “cor de incêndio” (linha 47) e a “toque estranho” (linhas 48- 49), como também a “pau d’arco” (linha 55) e a “o ouro que frondejava” (linhas 63-64).

III. A comparação que encerra o segundo parágrafo aproxima, para efeito expressivo, o matiz amarelo que se espalha pela paisagem de “um beijo do sol”.

 

Está correto o que se afirma em 

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