O verdadeiro romance se passa entre Joyce e a linguagem”, escreveu o crítico Harry Levin a propósito de Finnegans Wake. Cremos que se poderia aplicar a mesma observação a Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Não se quer com isso minimizar a mensagem de tais obras. Mas acentuar que os grandes conteúdos do Grande Sertão, como os de Joyce, se resolvem não só através da, mas na linguagem. Esta não é mais um animal doméstico atrelado ao veículo da “estória”, indiferente aos seus conteúdos. Identifica-se, isomorficamente, às cargas de conteúdo que carrega. [...] Daí a singular importância do romance de Guimarães Rosa, que vem retomar e redimensionar uma tradição, recente, é verdade, mas já quase completamente soterrada, na prosa brasileira: a de Macunaíma, de Mário de Andrade; e a de Oswald de Andrade – Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar –, até hoje confinado às primeiras edições, graças à lamentável indiferença de nossas casas editoras.
CAMPOS, Augusto de. Poesia, antipoesia, antropofagia & cia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
A associação de Guimarães Rosa a Mário de Andrade e Oswald de Andrade, no fragmento, considera como aspecto comum às produções literárias desses escritores um princípio modernista que envolve a(o)