Explicaê

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(AFA) FAVELÁRIO NACIONAL

Carlos Drummond de Andrade

Quem sou eu para te cantar, favela,

Que cantas em mim e para ninguém

a noite inteira de sexta-feira

e a noite inteira de sábado

E nos desconheces, como igualmente não te

conhecemos?

Sei apenas do teu mau cheiro:

Baixou em mim na viração,

direto, rápido, telegrama nasal

anunciando morte... melhor, tua vida.

...

Aqui só vive gente, bicho nenhum

tem essa coragem.

...

Tenho medo. Medo de ti, sem te conhecer,

Medo só de te sentir, encravada

Favela, erisipela, mal-do-monte

Na coxa flava do Rio de Janeiro.

Medo: não de tua lâmina nem de teu revólver

nem de tua manha nem de teu olhar.

Medo de que sintas como sou culpado

e culpados somos de pouca ou nenhuma irmandade.

Custa ser irmão,

custa abandonar nossos privilégios

e traçar a planta

da justa igualdade.

Somos desiguais

e queremos ser

sempre desiguais.

E queremos ser

bonzinhos benévolos

comedidamente

sociologicamente

mui bem comportados.

Mas, favela, ciao,

que este nosso papo

está ficando tão desagradável.

vês que perdi o tom e a empáfia do começo?

...

(ANDRADE, Carlos Drummond de, Corpo. Rio de Janeiro: Record, 1984)

Nos versos: “Mas, favela, ciao, / que este nosso papo / está ficando tão desagradável / vês que perdi o tom e a empáfia do começo?”, verifica-se a presença das funções de linguagem:

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