Texto 2
O texto que você lerá a seguir – o poema “Outro verde”, foi retirado da obra Delírio da Solidão, do escritor cearense de Quixeramobim Jáder de Carvalho, que nasceu em 29 de dezembro de 1901 e faleceu no dia sete de agosto de 1985. Jáder de Carvalho foi jornalista, advogado, professor e escritor: poeta e prosador. Sua obra mais conhecida é o romance Aldeota.
Outro verde
Teus olhos mostram o verde
que não é do mar.
[60] Não lembram viagens sem fim
nem o céu a abraçar-se com as águas,
num horizonte parado,
que os marujos não alcançam.
Qual o verde dos teus olhos,
[65] se não é o do oceano?
Não é também o das florestas
onde cabem mistérios e distâncias.
Teu olhar não tem a cor
da enseada que eu amo.
[70] Nele não gritam tempestades,
nem afundam ou se perdem veleiros.
Não escondem braços em naufrágios
nem vozes que não se ouvem
na despedida.
[75] O verde dos teus olhos é subjetivo.
Não sugere portos nem a foz de um rio.
Pintores, dizei-me:
qual de vós se atreveria
a copiar a cor desses olhos?
[80] Ainda não sofreste.
Ainda não conheces a saudade.
Um dia, entre lembranças doridas,
o verde dos teus olhos mudará.
Já li nas linhas da tua mão esquerda:
[85] tu, sem a estrela dos navegantes,
esperas
pelo navio perdido do meu amor.
(Jáder de Carvalho. Delírio da Solidão. p. 46-47.)
Sujeito lírico ou eu poético é um ser de ficção, como o é o narrador na prosa. Para que o texto literário tenha a consistência necessária a despertar uma reação emotiva no leitor, é preciso ser validado pela própria materialidade textual – um universo feito de palavras que apresenta nexo ou harmonia entre os elementos textuais.
Considere o que se afirma sobre essa validação no poema. Assinale com V as afirmações verdadeiras e com F as falsas.
( ) Tem-se um enunciador que fala diretamente a uma mulher, e o faz com certa intimidade, uma vez que a trata na segunda pessoa do singular.
( ) Quando se fala diretamente a uma pessoa, numa comunicação face a face, existe a certeza de uma resposta. Isso, porém, não ocorre no poema, o que o empobrece.
( ) Percebe-se que o enunciador, no caso, o sujeito lírico, ao opor o verde indefinido dos olhos da musa do poema a outros verdes já referidos na literatura, expressa-se de um ponto de vista moderno, o que é também mostrado pela própria estrutura do poema: versos livres e brancos.
( ) O vocabulário não oferece dificuldade, mas ainda não é o vocabulário dos tempos atuais. O poeta ainda não emprega a linguagem quase prosaica que se aproxima da linguagem do povo, mas também não usa mais um vocabulário recheado de preciosismos, isto é, de palavras pouco usadas e até desconhecidas.
( ) A sintaxe também é simples e direta, sem as inversões que caracterizaram os poemas do fim do século XIX e início do século XX, época em que floresceu o simbolismo, o parnasianismo e o pré-modernismo.
( ) Pelo tom do texto, conclui-se que o sujeito lírico enuncia, provavelmente, de um lugar amplo, onde muitas pessoas podem escutar as palavras de amor que ele diz à amada.
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência: