Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para
planger aqueles que morriam. Tocavam também para
assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou
à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante
[5] assim, em que o seu toque a rebate era o que convocava o
povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios,
aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a
comunidade. [...]
Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem
[10] e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no
mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela
justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por
mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do
próprio alimento do corpo. Houvesse essa justiça, e nem
[15] um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas
doenças que são curáveis para uns, mas não para outros.
Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais
de metade da humanidade, a condenação terrível que
objetivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem
[20] espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os
múltiplos movimentos de resistência e ação social que
pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça
distributiva e comutativa que todos os seres humanos
possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua,
[25] uma justiça protetora da liberdade e do direito, não de
nenhuma das suas negações.
José Saramago. Este mundo de injustiça globalizada.
A respeito do texto anteriormente apresentado, de José Saramago, e de múltiplos aspectos a ele relacionados, julgue o item.
No Brasil, o aumento do número de idosos na população e o consequente aumento dos gastos com previdência e saúde pública tornam-se alarmantes em razão de fatores diversos, como a desigualdade social, as questões de gênero, a formação educacional e as deficiências nos serviços públicos.