A questão refere-se a um trecho da obra de Monteiro Lobato, “Emília no país da Gramática”, em que duas personagens conversam a respeito da língua: Narizinho (protagonista de outra obra, também de Monteiro Lobato, “Sítio do Picapau Amarelo”, onde mora com Dona Benta, Tia Nastácia e Emília, sua boneca falante) e a Senhora Etimologia (ciência que investiga a origem – étimo – das palavras, procurando determinar as causas e circunstâncias de seu processo evolutivo). Leia-o e observe-o com atenção. A Senhora Etimologia “Os incultos influíram e ainda influem muitíssimo na língua”, disse a Senhora Etimologia. “Os incultos formam a grande maioria, e as mudanças que a maioria faz na língua acabam ficando.” “Engraçado! Está aí uma coisa que nunca imaginei...”, disse Narizinho. “É fácil compreender isso”, observou a velha. “As pessoas cultas aprendem com professores e, como aprendem, repetem certo as palavras. Mas os incultos aprendem o pouco que sabem com outros incultos e só aprendem mais ou menos, de modo que não só repetem os erros aprendidos como perpetram erros novos, que por sua vez passam a ser repetidos adiante. Por fim, há tanta gente a cometer o mesmo erro, que o erro vira uso e, portanto, deixa de ser erro. O que nós hoje chamamos certo já foi erro em outros tempos. Assim é a vida, meus caros meninos. Tomemos a palavra latina speculum”, continuou a velha. “Essa palavra emigrou para Portugal com os soldados romanos e foi sendo gradativamente errada até ficar com a forma que tem hoje: espelho.” “E os ignorantes de hoje continuam a mexer nela”, observou Narizinho. “A gente da roça diz espeio.” “Muito bem lembrado”, concordou a velha. “Essa forma, espeio, é hoje repelida com horror pelos cultos modernos, como a forma espelho deve ter sido repelida pelos cultos de dantes. Mas, como os cultos de hoje aceitam como certo o que já foi erro, bem pode ser que os cultos do futuro aceitem como certo o erro de hoje. Eu, que sou muito velha e tenho visto muita coisa, de nada me admiro.” Fonte: Trecho adaptado de “Emília no País da Gramática”, Monteiro Lobato, Ed. Brasiliense – http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/onde-vem-palavras-475983.shtml – 20/10/2009.
De acordo com o texto, conceitue os sentidos destinados aos termos cultos e incultos, utilizados pela personagem Senhora Etimologia, na conversa com Narizinho, em relação à sociedade.
Em sua opinião, por que os incultos também participam, de forma integrada, das alterações da língua, conforme diálogo dos personagens?