“O Rio não deve copiar Londres”
Dono de duas medalhas de ouro olímpicas na prova dos 1.500 metros (Moscou 1980 e Los Angeles 1984) e com 11 recordes mundiais quebrados ao longo da carreira, o inglês Sebastian Coe poderia passar o resto de seus dias longe das pistas de atletismo que ainda seria considerado um mito. Aos 54 anos, porém, ele continua ligado ao esporte, mas agora do outro lado do balcão. Coe foi o idealizador da candidatura de Londres para sediar os Jogos Olímpicos e, vencida a eleição, se tornou presidente do comitê responsável pela organização do evento. Como executivo, tem se revelado um inovador. Conseguiu convencer o governo inglês a abraçar a causa da sustentabilidade (o que resultou na construção de instalações temporárias para os jogos, mais econômicas no consumo de energia) e a vender ingressos a preços populares (a final dos 100 metros rasos, a prova mais nobre da Olimpíada, vai custar a partir de 22 euros – R$50). Ele também quer deixar um legado: incentivar os jovens do mundo inteiro a praticar esporte. Em entrevista exclusiva, Coe relembra passagens da carreira, fala dos jogos de Londres e dos desafios do Brasil para 2016. Seu recado: “O Rio não deve copiar Londres”.
O sr. tem uma das carreiras mais impressionantes da história do esporte, com 11 recordes mundiais quebrados. Que fatores foram determinantes para que alcançasse tais resultados?
Minhas conquistas se devem a muito treino, a uma boa equipe e à determinação de nunca desistir. Também pude contar com o apoio fantástico da minha família. Não receio dizer que, sem a ajuda de meus familiares, eu definitivamente não teria alcançado nada.
Qual é a importância do esporte e de competições olímpicas para um país?
O esporte é muito importante no desenvolvimento de um país, seja ele de qualquer parte do mundo, rico, pobre ou em desenvolvimento. O esporte é uma linguagem universal que todos podem compreender. Ele pode ajudar a mudar vidas e abrir portas para noções de liderança, para uma boa saúde ou para simplesmente proporcionar a satisfação daqueles que o praticam. Além disso, as modalidades esportivas podem ser usadas para ensinar conceitos como confiança e respeito.
A candidatura de Londres na Olimpíada de 2012 foi baseada na ideia de servir como inspiração para atrair jovens ao esporte. De que forma isso será feito?
Quando Londres se candidatou para sediar os Jogos de 2012, dissemos que queríamos chegar aos jovens de todo o mundo e motivá-los a optar pelo esporte como caminho de vida. Nosso programa olímpico, chamado de Inspiração Internacional, tem sido muito bem-sucedido.
O que é o programa de Inspiração Internacional?
É um programa que tem o objetivo de proporcionar esporte de alta qualidade, educação física e melhores oportunidades de treinamento para crianças ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Toda pessoa, independentemente de sua origem, tem o direito de sonhar com os jogos Olímpicos e alcançar seu pleno potencial. O Inspiração Internacional dá a essas pessoas a oportunidade vital para seu desenvolvimento por meio do esporte.
O discurso da sustentabilidade está em moda hoje em dia, mas ele é aplicado na realidade dos países? Objetivamente, de que forma os Jogos Olímpicos podem despertar o respeito ao meio ambiente?
Nosso objetivo é estabelecer novos padrões de vida, criando uma mudança positiva e duradoura para o meio ambiente e para as comunidades. Ressalto que nós temos incorporado a sustentabilidade em nosso planejamento desde o início. Estamos empenhados em utilizar sempre que possível espaços já existentes no Reino Unido para a competição. Significa que construiremos estruturas esportivas permanentes apenas quando se tiverem um uso a longo prazo após os jogos. Todo o resto será feito com estruturas temporárias. Isso representa uma economia brutal de recursos.
Como é seu trabalho no dia a dia?
Tenho acompanhado a evolução dos jovens nas escolas do Reino Unido desde que começamos a organizar a competição. Também visitei locais de treinamento e pude testemunhar o empenho de atletas aspirantes em melhorar suas marcas pessoais. A vida das pessoas começou a mudar na parte leste de Londres graças à construção dos parques olímpicos. No entanto, não teríamos chegado até aqui sem o fantástico trabalho, dedicação e empenho de todos os nossos colaboradores e voluntários que trabalham nos jogos de Londres 2012. Eles estão nos ajudando a propagar a nossa bandeira no dia a dia.
O Brasil vai sediar os Jogos Olímpicos de 2016. Qual a sua opinião sobre isso e o que o Sr. espera ver no Brasil em cinco anos?
Estamos muito felizes em entregar os Jogos Olímpicos para um país que colocará os jovens no coração de suas propostas e para um continente que nunca sediou a competição antes. Estou certo de que o Rio de Janeiro vai fazer um mandato espetacular. A beleza das Olimpíadas está em nenhum país copiar o outro. Nós devemos aprender com nossos antecessores, mas cabe ao novo anfitrião deixar sua marca na história dos Jogos Olímpicos. E eu acredito fortemente que o Rio de Janeiro fará isso.
ISTOÉ 2016. Março de 2011, n. 35. (Fragmento)
A linguagem empregada na entrevista é mais formal ou menos formal? Por que essa linguagem foi utilizada?