Texto para a questão No noroeste da Terra de Van Diemen, uma violenta tempestade desabou na calada da noite, e fomos lançados contra os rochedos. Num abrir e fechar de olhos, o navio se partiu, mas ainda assim eu e mais seis tripulantes conseguimos escapar num barco salva-vidas. Por pouco tempo, porém: meia hora depois, uma grande onda virou nosso barco, e meus companheiros desapareceram sob as águas. Apenas eu sobrevivi. Nadei na direção do vento e da maré. Mais de uma vez, morto de cansaço, tentei em vão alcançar o fundo com as pernas. Quando estava no limite de minhas forças, meus pés tocaram o fundo. Mas ainda tive de andar mais de um quilômetro para chegar à praia, onde me joguei na areia e caí em sono profundo. Quando acordei já era dia claro. Deitado de costas, demorei um pouco para me dar conta de onde estava. Porém, quando tentei me levantar, percebi que não conseguia me mover: meus braços e pernas estavam amarrados firmemente no chão! Meus cabelos, que iam até os ombros, também estavam tão firmemente amarrados que eu não podia nem ao menos virar a cabeça. Eu só podia olhar para cima, e o sol quente queimava meus olhos. De repente, senti alguma coisa na minha perna esquerda, movendo-se lentamente em direção ao meu queixo. Com grande esforço, consegui olhar naquela direção e avistei um ser humano, que não tinha mais de quinze centímetros de altura, armado de arco e flecha. Finalmente outros quarenta homenzinhos começaram a correr por todo o meu corpo. De tão assustado, soltei um berro que os fez fugir desabalados. Mas eles logo voltaram; um deles veio até o meu rosto e gritou com uma voz aguda: — Hekinah degul! Os outros repetiram as mesmas palavras várias vezes, embora eu não tivesse a mínima ideia do que significavam. Por fim, lutando para me libertar, consegui arrancar as cordas que prendiam o meu cabelo e meu braço esquerdo ao chão. Vendo isto, as minúsculas criaturas fugiram, antes que eu pudesse agarrar ao menos uma delas. Mas logo se ouviu uma ordem — Tolgo fonac! —, e uma chuva de flechas me atingiu as mãos e o rosto. Era como ser picado por uma centena de agulhas afiadas. Quando fiz mais um esforço para me libertar, outra chuva de flechas, dessa vez ainda mais intensa, caiu sobre mim, e soldadinhos me golpeavam as costelas com suas lanças. Achei mais prudente ficar quieto. Pararam de lançar flechas. Nesse meio tempo, eu ouvia ruídos e marteladas bem perto do meu ouvido direito; virando um pouco a cabeça, consegui ver uma espécie de plataforma, a que se podia subir por três escadas. Quando ficou pronta, uma criaturinha minúscula, menor que meu dedo médio, subiu na plataforma e gritou três vezes: — Langro dehul san. Então o tal “Hurgo” — pois este era o nome dele — fez um longo discurso, do qual não entendi nem uma palavra. Acabei ficando impaciente. Afinal, fazia muito tempo que eu não comia. Abrindo e fechando a boca, tentei mostrar a Hurgo que precisava comer. Por fim ele mandou que uma centena de homens colocassem cestos de comida em minha boca. Sem dúvida eram bois e carneiros inteiros, embora não me parecessem maiores do que asas de cotovia. Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. São Paulo: Ática, 2013. p. 10-14. Vocabulário
Terra de Van Diemen: atual Tasmânia.
prudente: cuidadoso, seguro.
Enunciado:
A personagem foi capturada e atacada por