Explicaê

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O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios. 

Não gosto das palavras
fatigadas de informar. 
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão

tipo água pedra sapo.

Entendo bem o sotaque das águas

Dou respeito às coisas desimportantes

e aos seres desimportantes.

Prezo insetos mais que aviões.

Prezo a velocidade

das tartarugas mais que a dos mísseis. 
Tenho em mim um atraso de nascença. 
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.

Meu quintal é maior do que o mundo.

Sou um apanhador de desperdícios:

Amo os restos

como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato

de canto.

Porque eu não sou da informática: 
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa. Antologia comentada da poesia brasileira do século 21.

São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.

Considerando o papel da arte poética e a leitura do poema de Manoel de Barros, afirma-se que:

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