(ENEM 2019 2º APLICAÇÃO) Canção
No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinhas…
Numa das naves que afundaram é que certamente tu vinhas.
Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem desgosto, e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto.
Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre águas e areias, cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.
Minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham e a lembrança do movimento.
E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva dentro destas águas sem fim.
MEIRELES, C. In: SECCHIN, A. C. (Org.). Obra completa.Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
Na composição do poema, o tom elegíaco e solene manifesta uma concepção de lirismo fundada na