As folhas da árvore que lhe dá sombra desenham arabescos móveis nas páginas do livro.
O jardim é uma festa. Passa no ar uma borboleta amarela, 6como uma folha de papel de seda levada pelo vento. Um besouro zumbe em torno dum canteiro. Uma rosa se despetala lentamente e as pétalas rolam para o chão. Há, pelos canteiros, verdes de todos os matizes. As glicínias perfumam o ar. Por entre a relva se arrastam insetos minúsculos de asas coloridas.
4Amaro fecha o livro e olha o jardim. Por que será que lhe vem à memória a imagem de Clarissa? Clarissa é parte integrante deste jardim florido e luminoso, Clarissa é como a relva veludosa, como as glicínias, como as margaridas, como as rosas.
Clarissa é qualquer coisa de agreste e puro. 1Clarissa é música e é poesia, menina e moça – olhos abertos para o mistério da vida, alma que amanhece.
5Amaro recorda com amargura que na sua adolescência sentiu passar pela sua frente raparigas em flor, sem sequer levantar os olhos dos livros em cuja leitura mergulhara. Elas cantavam e riam ao sol. 3Ele – insensato – pensava que 2a vida estava só nos livros...
Agora é tarde. Tarde para voltar. 6Tarde para corrigir. O milagre da mocidade não se repete.
VERÍSSIMO, Érico. Clarissa. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 97.
Assinale a alternativa correta em relação à obra Clarissa, Érico Veríssimo, e ao texto: