[1] Muita gente considera o catch um esporte ignóbil.
O catch não é um esporte, é um espetáculo, e é tão ignóbil
assistir a uma representação da dor, no catch, como ao
[4] sofrimento de Arnolfo ou de Andrômaca.
Existe, no entanto, um falso catch, pomposo, com a
aparência inútil de um esporte regular; mas esse não tem
[7] qualquer interesse. O verdadeiro — impropriamente chamado
catch amador — realiza-se em salas de segunda classe, onde
o público adere espontaneamente à natureza espetacular do
[10] combate, como o público de um cinema de bairro. Ao público
pouco importa que o combate seja falseado ou não; o futuro
racional do combate não lhe interessa: o catch é uma soma de
[13] espetáculos, sem que um só seja uma função: cada momento
impõe o conhecimento total de uma paixão que surge, sem
jamais se estender em direção a um resultado que a coroe.
[16] Assim, a função do lutador não é ganhar, mas
executar exatamente os gestos que se esperam dele. O catch
propõe gestos excessivos, explorados até o paroxismo da sua
[19] significação. Esta função de ênfase é a mesma do teatro antigo,
cuja força — língua — e cujos acessórios — máscaras e
coturnos — concorriam para fornecer a explicação
[22] exageradamente visível de uma necessidade. O gesto de um
lutador vencido, significando uma derrota que não se oculta,
mas se acentua, corresponde à máscara antiga, encarregada de
[25] significar o tom trágico do espetáculo. O lutador prolonga
exageradamente a sua posição de derrota, caído, impondo ao
público o espetáculo intolerável da sua impotência. No catch,
[28] como nos teatros antigos, não se tem vergonha da dor, sabe-se
chorar, saboreiam-se as lágrimas.
Roland Barthes. Mitologias. Rio de Janeiro: DIFEL, 2010, p. 15-26 (com adaptações).
Considerando o texto acima e aspectos a ele relacionados, julgue o item.
A capoeira é um tipo de luta introduzida no Brasil por escravos africanos, tendo sido sua prática incentivada pelos governos da Primeira República, que a consideravam instrumento de afirmação de identidade nacional calcada na tolerância e no pluralismo cultural.