Explicaê

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TEXTO 3

 

Leituras e leituras

 

  Ler melhora as pessoas? Há quem não dê 

[50] garantia absoluta. A filósofa alemã Hannah 

Arendt já disse (A Vida do Espírito) que leitores 

refinados estiveram no comando de muitos 

campos de concentração nazistas. O argentino 

Alberto Manguel lembra, nesta edição, do 

[55] professor que o instigou a ser escritor, mas se 

revelou um dedo-duro da ditadura argentina. 

Ler é uma possibilidade de abertura às 

experiências que ainda não vivemos na pele. 

Em si, nem sempre nos melhora. Pois o que 

[60] faremos com ela é da nossa alçada. 

  Hoje já se sabe que não há leitura "certa" 

ou "errada", há gradações. Um texto pode 

ganhar significações nem sempre previstas 

pelo autor. Pois circula, é lido em contextos e 

[65] épocas distintos. Já é hegemônica (está nos 

Parâmetros Curriculares, de 1998) a ideia da 

leitura como fruição e do leitor como 

construtor de sentidos do texto. A leitura 

pressupõe cruzamento de saberes e 

[70] experiências do leitor com os saberes 

propostos pelo texto, como disse Ingedore 

Koch, da Unicamp, nesta. Todo texto traz 

coisas implícitas. Como se chega ao que está 

oculto nele? Ligando o que está no texto ao 

[75] nosso saber prévio, diz Ingedore. O leitor com 

pouco conhecimento fará leitura mais rasa. Se 

sua experiência de vida e de leitura for maior, 

mais a fundo ele chega. O drama atual é levar 

essa noção a suas consequências: as ações 

[80] cotidianas devem realizar na prática a ideia de 

leitura como interação — ler para entender o 

mundo, não a intenção de um autor. Muita 

gente admite que o leitor não é um ser isolado 

do mundo. Elogia a leitura que enfatiza a 

[85] fruição. Mas, no vamovê, limita-se a exigir do 

leitor o projeto de escrita proposto pelo autor. 

Ou tenta controlar o que ele lê. 

  Esta edição é um modesto painel sobre a 

leitura, ato solitário que requer concentração, 

[90] feita hoje numa sociedade da distração, em 

que a irreflexão e a precipitação de juízos 

dominam. Parar para pensar e para ler dá 

trabalho (Platão: pensar é o diálogo silencioso 

de si consigo mesmo). Ler pode nos melhorar, 

[95] mas antes exige esforço de querer parar para 

pensar. Esforço genuíno de liberdade. 

Luiz Costa Pereira Junior, editor da revista Língua Portuguesa. Ano 5. Nº 63. Janeiro/ 2011. Seção "Carta ao Leitor''.

 

Observe os comentários feitos sobre o uso do advérbio hoje (linha 61, texto 3):

 

I. Aponta para janeiro de 2011, data da publicação do artigo.

II. Indica um tempo não específico, generalizado e pode ser substituído por "atualmente", "nos tempos atuais".

III. Sugere uma relativa contemporaneidade entre o ato de escrever e o ato de ler.

 

Está correto o que se afirma em

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