Explicaê

01

CANÇÃO DO VER

 

[1] Fomos rever o poste.

O mesmo poste de quando a gente brincava de pique

e de esconder.

Agora ele estava tão verdinho!

[5] O corpo recoberto de limo e borboletas.

Eu quis filmar o abandono do poste.

O seu estar parado.

O seu não ter voz.

O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com

[10] As mãos.

Penso que a natureza o adotara em árvore.

Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de passarinhos

que um dia teriam cantado entre as suas folhas.

Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.

[15] Mas o mato era mudo.

Agora o poste se inclina para o chão − como alguém

que procurasse o chão para repouso.

Tivemos saudades de nós.

Manoel de Barros Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010. 

A memória expressa pelo enunciador do texto não pertence somente a ele.


Na construção do poema, essa ideia é reforçada pelo emprego de:



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