Explicaê

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O DNA do racismo

 

Proponho ao leitor um simples experimento. Dirija-se a um local bastante movimentado e observe

cuidadosamente as pessoas ao redor. Deverá logo saltar aos olhos que somos todos muito

parecidos e, ao mesmo tempo, muito diferentes.

Realmente, podemos ver grandes similaridades no plano corporal, na postura ereta, na pele fina

[5] e na falta relativa de pelos, características da espécie humana que nos distinguem dos outros

primatas. Por outro lado, serão evidentes as extraordinárias variações morfológicas entre as

diferentes pessoas: sexo, idade, altura, peso, massa muscular, cor e textura dos cabelos, cor

e formato dos olhos, cor da pele etc. A priori, não existe absolutamente nenhuma razão para

valorizar mais uma ou outra dessas características no exercício de investigação.

[10] Nem todos esses traços têm a mesma relevância. Há características que podem nos fornecer

informações sobre a origem geográfica ancestral das pessoas: uma pele negra pode nos levar a

inferir que a pessoa tem ancestrais africanos, olhos puxados evocam ancestralidade oriental

etc. E isso é tudo: não há absolutamente mais nada que possamos captar à flor da pele. Pense

bem. O que têm a pigmentação da pele, o formato e a cor dos olhos ou a textura do cabelo a ver

[15] com as qualidades humanas singulares que definam uma individualidade existencial?

Em nítido contraste com as conclusões do experimento de observação empírica acima, está

a rigidez da classificação da humanidade feita pelo naturalista sueco Carl Linnaeus, em 1767.

Ele apresentou, pela primeira vez na esfera científica, uma categorização da espécie humana,

distinguindo quatro raças principais e qualificando-as de acordo com o que ele considerava suas

[20] características principais:

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Homo sapiens europaeus: branco, sério, forte;

Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico, avaro;

Homo sapiens afer: negro, impassível, preguiçoso;

Homo sapiens americanus: vermelho, mal-humorado, violento.

[25] Observe o leitor que as raças de Linnaeus continham traços peculiares fixos,

ou seja, havia a expectativa de todos os europeus serem “brancos, sérios

e fortes”. Assim, teríamos de esperar que as pessoas negras ao redor de

nós tivessem tendências “impassíveis e preguiçosas”, e que as de olhos

puxados fossem predispostas a “melancolia e avareza”.

[30] Esse é um exemplo do absurdo da perspectiva essencialista ou tipológica de raças humanas.

Nesse paradigma, o indivíduo não pode simplesmente ter a pele mais ou menos pigmentada,

ou o cabelo mais ou menos crespo – ele tem de ser definido como “negro” ou “branco”, rótulo

determinante de sua identidade.

Esse tipo de associação fixa de características físicas e psicológicas, que incrivelmente ainda persiste

[35] na atualidade, não faz absolutamente nenhum sentido do ponto de vista genético e biológico! O

genoma humano tem cerca de 20 mil genes e sabemos que poucas dúzias deles controlam a

pigmentação da pele e a aparência física dos humanos. Está 100% estabelecido que esses genes

não têm nenhuma influência sobre qualquer traço comportamental ou intelectual.

SÉRGIO DANILO PENA

Adaptado de cienciahoje.org.br, 11/07/2008. 

• Homo sapiens europaeus: branco, sério, forte;

• Homo sapiens asiaticus: amarelo, melancólico, avaro;

• Homo sapiens afer: negro, impassível, preguiçoso;

• Homo sapiens americanus: vermelho, mal-humorado, violento. (l. 21-24)

 

Comparando as quatro categorias apresentadas pelo naturalista sueco Carl Linnaeus, a perspectiva adotada em sua classificação pode ser definida como:

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