Explicaê

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O QUE NOSSAS METÁFORAS DIZEM DE NÓS

 

Para o poeta Robert Frost, a vida era um caminho que passa por encruzilhadas inevitáveis; para

Fernando Pessoa, uma sombra que passa sobre um rio. Shakespeare via o mundo como um palco

e Scott Fitzgerald percebia os seres humanos como barcos contra a corrente. Metáforas como essas

nos rodeiam, mas não só quando seguramos um livro nas mãos. Em nosso uso cotidiano da língua,

[05] elas são tão presentes que nem sequer percebemos. São exemplos “teto de vidro impede a carreira

das mulheres”, “a bolha do aluguel”, “cortar o mal pela raiz”. Considerada a forma por excelência da

linguagem figurada, a metáfora às vezes é tida como mero embelezamento do discurso.

Entretanto, desde 1980, com a publicação do livro Metáforas da vida cotidiana, essa figura retórica

recuperou seu protagonismo. Os autores George Lakoff e Mark Johnson mostraram que as alegorias

[10] desenham o mapa conceitual a partir do qual observamos, pensamos e agimos. Com frequência são

nossa bússola invisível, orientando tanto os gestos instintivos que fazemos como as decisões mais

importantes que tomamos. É muito provável que aqueles que concebem a vida como uma cruz e

os que a entendem como uma viagem não reajam da mesma forma ante um mesmo dilema. As

metáforas são ferramentas eficazes e de múltiplas utilidades. Ao partir de elementos já conhecidos,

[15] nos ajudam a examinar realidades, conceitos e teorias novas de uma maneira prática. Também nos

servem para abordar experiências traumáticas nas quais a linguagem literal se revela impotente.

São vigorosos atalhos que a mente usa para assimilar situações complexas em que a literalidade

acaba sendo tediosa, limitada e confusa. É mais fácil para nós entender que a depressão é uma

espécie de buraco negro e que o DNA é o manual de instruções de cada ser vivo.

[20] As figurações dão coesão às identidades coletivas, pois circulam sem cessar até se incorporarem

à linguagem cotidiana. Há alguns anos, os psicólogos Paul Thibodeau e Lera Boroditsky, da

Universidade Stanford (E.U.A.), analisaram os resultados de um debate sobre políticas contra a

criminalidade que recorria a duas metáforas. Quando o problema era ilustrado como se houvesse

predadores devorando a comunidade, a resposta era endurecer a vigilância policial e aplicar leis

[25] mais severas. No entanto, quando o problema era exposto como um vírus infectando a cidade, a

opção era a de adotar medidas para erradicar a desigualdade e melhorar a educação. Comparações

ruins levam a políticas ruins, escreveu o Nobel de Economia Paul Krugman.

No campo da medicina, tem havido mudanças de paradigma no que diz respeito ao impacto

emocional das metáforas. Num recente seminário organizado pela Universidade de Navarra

[30] (Espanha), a linguista Elena Semino dissertou sobre os efeitos de abordar o câncer como se

fosse uma guerra, provocando sensações negativas quando o paciente acredita estar “perdendo a

batalha”, mesmo que isso possa ser estimulante para outros. O erro, segundo a especialista, reside

em misturar os campos semânticos da guerra e da saúde. Para corrigir essa questão, a linguista

elabora o que chama de “cardápio de metáforas”, para que médicos e pacientes enfrentem a doença

[35] de forma mais construtiva.

As boas metáforas nos trazem outras perspectivas, fronteiras menos rígidas e novas categorizações

que substituem aquelas já desgastadas.

MARTA REBÓN

Adaptado de brasil.elpais.com, 11/04/2018.

No texto, apresenta-se o princípio que estrutura as metáforas por meio da seguinte palavra sublinhada:

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