A Mula sem Cabeça
— Onde houver um pequeno ajuntamento de casas rodeando uma igreja, com noites silenciosas e escuras, haverá casos de aparição da Mula sem Cabeça.
Dizem que é uma mulher que namorou um padre e, por isso, foi castigada. Toda passagem da noite de quinta para sexta-feira, ela vai até uma encruzilhada e ali acontece o encantamento. Depois, tem que percorrer sete freguesias ao longo daquela noite. (Freguesias eram pequenos povoados, no Brasil de antigamente.)
Mas veja que estranho: "Mula sem Cabeça" é só o nome desse mito. Na verdade, de acordo com as histórias que o povo conta, ela aparece como um animal inteiro, forte, lançando fogo pelas narinas e pela boca, onde tem freios de ferro. Nas noites de cumprir sua punição, ouve-se o seu galope violento, acompanhado de longos relinchos. Em alguns momentos, soluça como uma pessoa quando chora. Ninguém põe o pé fora de casa nessas noites.
Se alguém, bastante corajoso, tirar os freios de sua boca, o encanto se quebrará, e a Mula sem Cabeça voltará a ser gente, livre para sempre da maldição que a castiga.
XAVIER, Marcelo. A mula sem cabeça. In: Mitos: o folclore do Mestre André.
Belo Horizonte: Formato Editorial, 1997. p. 22.
Nas noites escuras de quinta-feira, ninguém "põe o pé fora de casa" porque