Explicaê

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Você já disse que tirou músicas dos shows porque as acha datadas. O que data uma música sua?  

Posso atribuir essa datação às músicas mais agudas do tempo da ditadura. Algumas músicas que foram criadas meio que como uma função extramusical. Ou seja, com a intenção de desafiar o regime, a censura etc. Vamos dizer: músicas sinceras. Essas vivem menos, talvez seja isso. Outras ficam datadas musicalmente, porque são canções, harmonias que não representam mais o que me interessa hoje como uma solução harmônica, construção melódica. Essas têm remédio porque eu posso refazer, rearranjar, re-harmonizar. Agora, há meia dúzia de canções – “Apesar de Você”, “Cálice”, “Deus lhe Pague” – essas, para mim, ficaram datadas. Elas correspondem ao momento político e não fazem grande sentido hoje.

  

Será que essas músicas não têm um significado mais abrangente para o público?

Pode ser, pode ser. Porque as pessoas têm uma lembrança afetiva da música. Elas gostam de determinadas músicas porque elas remetem a uma época feliz da sua vida. “Essa é a música que ouvi quando conheci a minha namorada.” Isso existe independentemente do que diz a letra. Quando eu digo que não tenho vontade de cantá-las porque elas são datadas, isso é pra mim! Eu não tenho vontade de cantar. Acredito que as pessoas que não tinham posições políticas claras na época possam ouvir “Apesar de Você” hoje e encontrar um valor afetivo muito grande, independentemente do que a letra diz. Isso até contraria um pouquinho o que você falou, porque as pessoas se deixam levar pela música e, às vezes, cantam a letra sem prestar atenção no que estão dizendo. Isso existe, basta lembrar as músicas que você cantava na infância. “Que engraçado, essa música quer dizer isso!” Você não entendia o que era e repetia. Ou as pessoas que cantam em inglês e muitas vezes não sabem o que diz aquilo. Elas gostam do som e aprendem a dizer aquelas palavras, não têm muita noção do que elas dizem. Ouvem músicas que fazem um enorme sucesso no mundo inteiro e que, na verdade, são compreendidas por uma parcela bem menor de pessoas.

  

Quem cumpre o papel de crítica social hoje?

Todo o rap que se faz aqui no Rio e em São Paulo é fortemente de crítica social. Eles fazem isso muito bem, com propriedade, falando dos problemas locais da comunidade. Falam muito de uma maneira que eu não saberia abordar. Nem me cabe, me sinto até excluído desse mundo. É direto, não há metáforas, não há censura. Vão direto ao ponto. Eu me sinto até um pouco intruso nesse meio. Para mim, o que acontece é que muitas vezes as pessoas falam: “Vem cá, por que você não fala [ de problemas político-sociais nas letras]?” Eu me lembro quando estourou aquela história do Mensalão e, numa entrevista coletiva, perguntaram por que eu não falava daquilo. “Você quer que eu faça o quê? O ‘Sambão do Mensalão’?” Não vou fazer o “Sambão do Mensalão”, mesmo porque as pessoas se esquecem de que essas músicas todas que eu citei antes eram coisas que eu dizia e que, na época, os jornais não falavam. Não me interessa hoje repetir em música o que está todos os dias nos jornais. Nem me interessa muito dar entrevista falando mal do governo. Eu gostava de falar mal do governo quando os jornais não o faziam.

 

Disponível em: < http://www.radios.com.br>. Acesso em: 20 out. 2012.

 

Suponha que a entrevista será publicada no site do veículo de comunicação que a transmitiu. Nesse caso, as perguntas e respostas serão transcritas e o texto receberá uma formação típica das entrevistas publicadas na modalidade escrita. Assim, além de inserir uma foto do entrevistado, será necessário criar um título e um subtítulo que sirvam de chamariz ao leitor ao mesmo tempo em que apontem o viés da entrevista.

 

Com base nas perguntas formuladas e no conteúdo das respost apresentadas pelo entrevistado, crie um título e um subtitulo (bigode) que sejam adequados para compor uma página de internet que exibirá a entrevista transcrita.