Explicaê

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Moleque, o cachorrinho

  

          Moleque era um lindo cachorrinho preto e branco. Ele vivia num canil com uma porção de cachorros, de todas as raças. Cachorros grandes, cachorrinhos  pequenininhos. Cachorros peludos, cachorros de pelo curto. Cachorros brancos, pretos e marrons. Você nunca viu tantos cachorros juntos na vida...

          Todo dia aparecia gente para ver os cachorros. E quase todo dia alguém escolhia um cachorro e levava para casa. Moleque tentava sempre se mostrar. Ele queria muito ser escolhido.

          Um dia, apareceu um fazendeiro. Moleque logo quis morar com ele. Abanou o rabo contente, sacudiu o corpo e pulou para tentar lamber a mão do fazendeiro. Mas o fazendeiro disse:

        — Este cachorro é muito simpático, mas eu preciso de um cachorrão. Acho que vou levar aquele outro ali.

        Moleque ficou olhando o cachorro sair, com os olhos compridos, pensando que da próxima vez ele precisava parecer um cão mais forte.

        Logo depois apareceu o palhaço e Moleque ficou sentado lá, sério. O palhaço comentou:

        — Este cachorro não serve. Eu preciso de um cachorro brincalhão, que aprenda a fazer brincadeiras, palhaçadas.

        O palhaço escolheu outro cachorro e as brincadeiras começaram ali mesmo! Então, Moleque pensou que já sabia o que deveria fazer. Começou a treinar mil brincadeiras. Aprendeu até a rolar no chão, fingindo que estava morto! Ele aprendeu a ficar em pé e era muito inteligente!

      Até que um dia, apareceu um policial. Ele viu Moleque fazer todas as suas gracinhas. O policial deu muita risada. Depois ficou sério e falou:

      — Você é um cachorro muito engraçado, mas eu preciso de um cachorro que pareça muito bravo. Eu tenho que vigiar uma grande loja, de noite! É perigoso...

    O policial escolheu um cachorro com cara de meter medo. Moleque resolveu que tinha que parecer um cachorro bravo e começou a treinar. Rosnava, latia. Mostrava os dentes. Quando ele estava treinando, apareceu uma senhora, que ficou muito assustada:

      — Meu Deus, que cachorro bravo! Eu quero um cachorro bonitinho, que possa ganhar a fita azul, numa exposição de cães.

      A senhora escolheu um cachorro francês com o pelo encaracolado e levou o bichinho para casa.

      Coitado do Moleque... Os seus pensamentos eram cada vez mais tristes. Ele achava que ninguém nunca ia escolhê-lo.

      Um dia, apareceram lá no canil Caio e Alice. Eles olharam os cachorrões e os cachorrinhos. Olharam os cachorros peludos e os de pelo curto. Até que eles viram Moleque!

      Moleque ficou tão contente quando viu os meninos que se balançou todo, sacudiu o rabo e até pulou para dar uma lambidinha no rosto deles. Os meninos ficaram encantados:

      — Que gracinha de cachorro! Vamos levar para casa com a gente?

      E assim eles fizeram. Daí por diante, Moleque viveu muito feliz porque ele sabia fazer um pouco de tudo. Ele era útil, acordando os meninos de manhã e trazendo de noite o jornal, na boca. Ele era tão inteligente quanto o cachorro do circo, fazendo brincadeiras para divertir o pessoal da vizinhança. Ele era tão bravo quanto um cachorro policial vigiando a casa, enquanto a família dormia. É claro que ele não ganhou nenhum prêmio na exposição de cães, mas os meninos não ligavam nem um pouquinho para isso. Eles gostavam de Moleque exatamente como ele era!

NOWAK, Mary Lauer. Moleque, o cachorrinho, o cachorrinho. São Paulo, Abril Cultural, 1975.  

  

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