O QUE É A VIDA?
João Miguel de Oliveira, 6 anos, carioca, fez essa complexa pergunta para a série “Perguntas de criança, respostas da ciência”. Abaixo, dois cientistas de áreas diferentes foram convidados para (tentar) responder à questão.
A vida é a ordem em meio à desordem, por Hugo Aguilaniu, biólogo geneticista
Na condição de geneticista que pesquisa o envelhecimento, devo dizer que a definição mais estrita de vida
[5] não é, de fato, tão simples. A primeira ideia que vem à mente é que um ser vivo deve ser capaz de se mover
– seja em nível macroscópico ou apenas molecular. O movimento molecular, porém, não é específico dos
seres vivos, pois basta pôr duas moléculas reativas em presença uma da outra para dar início aos fluxos
químicos, aos movimentos. Mover-se é, portanto, uma condição necessária, mas não suficiente.
Outra característica da vida é a capacidade de se perpetuar. Os seres vivos são, em sua maioria, mortais,
[10] mas podem perpetuar a vida por meio da reprodução, quando então o código genético com todas as
informações é fielmente replicado. Não é impossível, porém, que alguns organismos se perpetuem sem se
reproduzir, por meio de uma eficiente regeneração. De todo modo, é sempre necessário perpetuar e/ou
reproduzir nossa informação genética.
A replicação do código genético implica a capacidade de os seres vivos se manterem em ordem. Estar
[15] vivo é precisamente manter certa organização molecular dentro de si. Essa manutenção da ordem é muito
cara em termos energéticos: enquanto há vida, ela não pode parar. São o metabolismo e a ingestão de
moléculas que carregam certa quantidade de energia química que impulsionam esse processo.
Os seres vivos, portanto, consomem energia ao seu redor para se manterem em ordem. De acordo com a
segunda lei da termodinâmica, sabemos que a ordem mantida nos indivíduos vivos só é possível ao preço
[20] da criação de uma desordem. E essa, por sua vez, é ainda maior que a ordem – tanto que a entropia, a
desordem do universo, cresce inexoravelmente.
A vida é uma obra de Gaia, por Adriana Alves, geóloga
Para um geólogo, a vida envolve os processos compreendidos entre o nascimento e a morte. Entretanto,
ao contrário dos biólogos, nós não nos referimos necessariamente apenas a animais, plantas e bactérias
[25] como seres vivos. Planetas, estrelas e até vulcões fazem parte desse grupo. Uma estrela, por exemplo, como
o Sol, vive para queimar combustível e fornecer luz e calor no processo; um planeta vive para diminuir
a temperatura de seu interior até que sua dinâmica interna se paralise. Nós, seres viventes clássicos da
biologia, nos originamos da combinação quase milagrosa e acidental de carbono, oxigênio, nitrogênio
e hidrogênio… E foi o surgimento dos seres fotossintetizantes que nos propiciou a atmosfera rica em
[30] oxigênio da qual boa parte dos seres que conhecemos necessitam para seguir vivendo.
Não fosse o pulsante dinamismo da Terra, os continentes não existiriam e o planeta ainda seria uma bola de
lava. Sem essa dinâmica tampouco haveria deriva continental, nem as placas tectônicas se encontrariam.
Esse “não encontro” impossibilitaria a migração dos hominídeos, que existiriam isolados em algum ponto
remoto da África.
[35] Como uma mãe (Pacha Mama ou Gaia), a Terra nos fornece tudo de que precisamos para a vida biológica
desde o surgimento da nossa (e de qualquer) espécie. Seja por influenciar a distribuição dos nutrientes
do subsolo e a ocupação do território por caçadores coletores, seja por definir a distribuição de metais
preciosos usados nos chips do computador em que ora escrevo, a vida humana e de todos os demais seres
só se tornou viável por conta da dinâmica peculiar e caprichosa de Gaia.
Adaptado de cienciafundamental.blogfolha.uol.com.br, 21/10/2021.
De acordo com a exposição feita na primeira seção do texto (linhas 3 a 21), as noções de ordem e desordem estabelecem determinada relação entre si. Trata-se de uma relação de: