Explicaê

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O primeiro dia de aula do ano é ao mesmo tempo igual e diferente. Diferente porque tem sempre aquele gostinho de coisa nova. E igual, porque a gente vai ter que fazer as mesmas coisas: conhecer o horário, ver a classe, o número, os professores. E rever a galera de quem a gente só é um pouco amigo e não encontra durante as férias.

Quase todo mundo tá um pouco queimado e sempre tem alguma história das férias pra contar. Eu e o Alê tínhamos uma super-história. [...] 

Logo que nós chegamos no pátio uns caras e garotas formaram uma rodinha em volta da gente e ficaram nos perguntando os mínimos detalhes. Nós

tínhamos combinado de exagerar pelo menos cinco vezes tudo o que a gente falasse pra ficar mais emocionante. Foi muito engraçado. [...]

Já estava quase na hora de bater o sinal quando o Alê virou pra galera e disse que a gente ia interromper um pouco pra copiar o horário das aulas.

E eu completei:

– No recreio a gente continua.

[...]

Na nossa escola, o horário de todas as classes fica pendurado no mural do pátio coberto, ao lado da cantina.

Enquanto nós íamos pra lá, o Alê disse que ainda não tinha visto nenhum aluno novo. Bem quando eu ia dizer "é mesmo", eu olhei para o mural e vi um boné vermelho que nunca tinha visto. O boné estava virado pra trás e quase encostava na mochila verde, Reebok, igualzinha a minha, que estava presa nas costas do dono do boné. Ele estava copiando o horário.

– Olha lá, Alê.

– Quem será?

Quando a gente foi se aproximando, deu pra perceber que ele repetia em voz alta o que copiava. E também deu pra perceber pela voz que não era ele.

Era ela:

– Quarta-feira. Primeira aula, matemática, professor João Paulo. Segunda e terceira, história, professora Meire. Recreio. Quarta aula, biologia, professor Douglas. E quinta aula, computação, professor José Carlos.

Na "computação, professor José Carlos", já estava cada um do lado dela. E deu pra ver que o boné também tinha uma aba na frente. Boné com aba na frente e atrás? Igual detetive! Ela estava com dois bonés. Um por cima do outro. E nem notou que a gente estava espiando. [...]

Quando eu vi que os olhos pretos combinavam com o nariz fininho, e que o nariz fininho combinava com a boca bem redondinha, e que a boca bem redondinha estava coberta com um batom bem vermelho, e que tudo isso que combinava era lindo, muito lindo, eu fui abrindo os olhos devagar, até ficarem bem arregalados. Aí a minha boca também começou a se abrir e só parou quando acabou a elasticidade dos músculos dos lábios. [...]

BRANDÃO, Toni. Cuidado – garoto apaixonado. São Paulo: Melhoramentos.

Disponível em: <http://www.sitenarede.com/timedaescola/cuidadogarotoapaixonado>.

Acesso em: 09 jul. 2012. (Fragmento)

Em relação ao texto, pode-se afirmar o seguinte:

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