GUILHERME AUGUSTO ARAÚJO FERNANDES
Era uma vez um menino chamado Guilherme Augusto Araújo Fernandes. Sua casa era ao lado de um asilo de idosos e ele conhecia todo mundo que vivia lá.
Ele gostava de todas as pessoas, mas a pessoa que ele mais gostava era a senhora Antônia Maria Diniz Cordeiro. Ele a chamava de Dona Antônia e contava-lhe todos os seus segredos.
Um dia, Guilherme Augusto escutou sua mãe e seu pai conversando sobre dona Antônia. Coitada da dona Antônia! Ela perdeu a memória. — disse sua mãe.
— O que é memória? —perguntou Guilherme Augusto.
— É algo de que você se lembre — respondeu o pai.
Mas Guilherme Augusto queria saber mais. Então, ele procurou a senhora Silvana e perguntou:
— O que é memória?
— Algo quente, meu filho, algo quente.
Depois perguntou ao senhor Cervantes e ele respondeu:
— Algo bem antigo, meu amigo!
O senhor Valdemar disse que memória era algo que fazia chorar e a senhora Mandala disse que era algo que fazia rir e que valia ouro.
Então Guilherme Augusto voltou para casa, para procurar memórias para Dona Antônia, já que ela havia perdido as suas.
Ele procurou uma antiga caixa de sapatos cheia de conchas, guardadas há muito tempo, e colocou-as com cuidado numa cesta.
Ele achou a marionete, que sempre fizera todo mundo rir, e colocou-a ao lado das conchas. Ele lembrou-se, com tristeza, da medalha que seu avô lhe tinha dado e colocou-a na cesta também. Depois achou sua bola de futebol, que para ele valia ouro. Por fim, entrou no galinheiro e pegou um ovo fresquinho, ainda quente, debaixo da galinha.
Guilherme Augusto foi visitar Dona Antônia e deu a ela cada objeto que colocou na cesta.
E então ela começou a se lembrar. Ela segurou o ovo ainda quente e contou a Guilherme Augusto sobre um ovinho azul, todo pintado, que havia encontrado uma vez, dentro de um ninho, no jardim da sua casa.
Ela encostou uma das conchas em seu ouvido e lembrou-se da vez que tinha ido à praia de bonde. Ela pegou a medalha e se lembrou, com tristeza, de seu irmão mais velho, que havia ido para guerra. Ela sorriu para a marionete e se lembrou da vez em que mostrara uma para sua irmãzinha, que rira muito, com a boca cheia de mingau.
Ela jogou a bola de futebol para Guilherme Augusto e se lembrou do dia em que se conheceram e de todos os segredos que haviam compartilhado.
E os dois sorriram e sorriram, pois toda a memória perdida de dona Antônia tinha sido encontrada, por um menino que era muito seu amigo.
Fonte: FOX, Mem. Guilherme Augusto Araújo Fernandes. São Paulo: Brinque-Book, 1984.
Vocabulário:
Marionete: boneco de madeira ou papelão manipulado por uma pessoa através de fios.
Uma fonte histórica usada por Guilherme para ajudar dona Antônia a relembrar suas memórias é