Saído do regime servil sem condições para se adaptar rapidamente ao novo sistema de trabalho, à economia urbano-comercial e à modernização, o “homem de cor” viu-se duplamente espoliado. Primeiro, porque o ex-agente de trabalho escravo não recebeu nenhuma indenização, garantia ou assistência; segundo, porque se viu repentinamente em competição com o branco em ocupações que eram degradadas e repelidas anteriormente, sem ter meios para enfrentar e repelir essa forma mais sutil de despojamento social. Só com o tempo é que iria aparelhar-se para isso, mas de modo tão imperfeito que ainda hoje se sente impotente para disputar “o trabalho livre na Pátria livre”.
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difel, 1971, p.47.
Os primeiros anos pós-Abolição, no Brasil, foram marcados por ameaças de convulsão social e de reorganização do sistema produtivo. Nesse cenário, a força de trabalho estava marcada pelos