Explicaê

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ENCONTRE SEU LIVRO

  

 

Eles separaram seus livros preferidos, mas não vão ler a história pela centésima vez. A ideia é bem mais nobre: abandonar o objeto em uma praça ou em um ponto de ônibus, qualquer lugar onde possa ser encontrado. E lido. O bookcrossing, prática comum em vários países do mundo, ganhará as ruas de Belo Horizonte em abril, em um exemplo de cidadania e valorização da literatura pelos alunos do Instituto Coração de Jesus.

A ideia foi da professora de inglês Eliene Souza, que adaptou o bookcrossing para que fizesse parte das atividades da escola. Depois de conhecer exemplos sobre a prática mundial de deixar livros em espaços públicos para serem lidos por outras pessoas, e de pesquisar sobre como anda a leitura no Brasil e no mundo, os alunos se preparam agora para a etapa final: escolher o local em que vão abandonar os companheiros de cabeceira.

Laura Vida, de 12 anos, anseia pelo dia em que vai abandonar o Diários do vampiro: o confronto, seu preferido. “É uma oportunidade de alguém ler o que acho mais legal. Abandonando os livros, outras pessoas ficam sabendo de histórias que não conheciam e, assim, todos variamos nossa leitura.” João Victor Migliorini, de 12, teve a mesma ideia e vai se desfazer do sétimo volume da série Harry Potter, Relíquias da morte. (...)

Ao abandonar seus livros mais queridos, os meninos mostram que entenderam direitinho o sentido do bookcrossing. Julia Bouzada, de 11, acha que, se uma pessoa que não gosta muito de ler pegar o livro, o projeto terá sido um jeito de estimular a leitura. Pesquisando sobre o quanto o brasileiro costuma ler, eles ficaram preocupados ao descobrir que a leitura aqui é fraca em relação a outros países. “Abandonar os livros vai incentivar a leitura no Brasil”, acredita Sofia Abreu, de 11.

Grandes leitores, muitos deles participam do Clube de Leitura da escola, por gostarem de compartilhar o que entenderam das histórias. “É bom reunir todo mundo em volta de um livro e discutir o que achamos”, defende Taís dos Santos, de 11. “A gente tem visões diferentes de cada história. E é bom ver o que os outros acharam”, concorda a colega Júlia Bouzada. Em relação à literatura, portanto, eles acreditam que o mais interessante é compartilhar.

É por isso que querem divulgar o projeto para outros leitores. Izabela Profeta, de 11, ao ouvir da professora que precisavam espalhar o bookcrossing, pensou em contar aos leitores do Gurilândia a grande ideia e ligou para a redação sugerindo essa matéria. “Saber que alguém não pegou o livro vai ser ruim. Ao mesmo tempo, eu sei que fiz a minha parte em incentivar. Se eles não quiserem, não podemos fazer mais nada”, acrescenta Izabela.

A curiosidade sobre o que as pessoas farão com os exemplares não sai da cabeça das crianças. Todos os livros serão abandonados com uma mensagem, avisando que não estão perdidos e sim foram deixados de propósito para que outros pudessem lê-los. A mensagem também terá um e-mail para que o “novo dono” comunique que está com a obra. Mas a curiosidade das crianças sobre o destino das histórias é maior. “Queria ver a reação da pessoa, porque não é comum achar um livro por aí. Queria vê-la abrir o livro, saber se vai gostar”, conta Yuri Souza, de 12.

A felicidade será ainda maior se os novos leitores continuarem a corrente, abandonando o objeto achado ou outros que têm em casa. (...) Quem sabe um desses exemplares não cai na sua mão?

 

 

BOOKCROSSING

A palavra em inglês quer dizer troca de livros e é o nome usado em outros países para a prática de deixá-los em lugares movimentados, para serem encontrados e lidos por outras pessoas. O bookcrossing surgiu nos Estados Unidos em 2001, por meio de um site (www.bookcrossing.com), que depois se transformou em um movimento global. Quem participa, quer transformar o mundo em uma grande biblioteca e não se importa de deixar bons livros em ônibus, metrôs, bancos de praças, para que o maior número de pessoas possa lê-los. Mas não é simplesmente abandonar um livro. A prática é dividida em duas fases:

REGISTRAR

No projeto original, antes de ser abandonado, o livro deve ser registrado no site do bookcrossing, quando recebe um número de identificação que permitirá ao primeiro dono e aos seguintes leitores terem notícias de sua viagem pelo mundo. O número de identificação deve ser escrito no livro com alguma informação sobre o bookcrossing e seus objetivos. Na versão do Instituto Coração de Jesus, as crianças criaram um e-mail e pedem que as pessoas comuniquem quando encontrarem um livro.

ABANDONAR

Já com o número de identificação, quem vai deixar o exemplar deve registrar no site, o lugar em que vai libertá-lo. O objetivo é gerar um relatório da viagem do livro a partir de seu ponto de abandono. O relato pode ser anônimo, a pessoa só precisa usar uma identidade virtual sempre que fizer novos registros. Após ler a obra, também deve fazer um relato e comunicar o que pretende fazer com ela. Geralmente, o livro é libertado de novo para ser lido por outros leitores.

(Fonte: Jornal Estado de Minas – Gurilândia – 27/03/2010)

 

Escreva um bilhete que poderia ser colocado em um livro que seria deixado em um lugar público. Inclua no bilhete as informações que são necessárias no bookcrossing, de acordo com a notícia.