Texto 1
— Mas, Emília, está certo que o Lobato ficou muito famoso porque escreveu os livros aqui do Sítio, e colocou na sua boquinha todas as críticas e reclamações que ele teve deste mundo, mas além disso ele foi um grande contista, inventou o Jeca Tatu, fez campanha sanitarista, foi um grande editor de livros e, como você deve saber, foi um dos primeiros brasileiros a bater o pé dizendo que no Brasil tinha petróleo, numa época em que todo mundo ria disso. [...]
SANDRONI, Luciana. Minhas memórias de Lobato: contadas por Emília, Marquesa de Rabicó e pelo Visconde de Sabugosa. 1. ed. 8. reimp.
São Paulo: Cia. das Letrinhas, 2001. p. 3.
Texto 2
— Será a única mentira das minhas Memórias. Tudo mais verdade pura, da dura, ali na batata, como diz Pedrinho.
Dona Benta sorriu.
— Verdade pura! Nada mais difícil do que a verdade, Emília.
— Bem sei – disse a boneca. Bem sei que tudo na vida não passa de mentiras, e sei também que é nas memórias que os homens mentem mais. Quem escreve memórias arruma as coisas de jeito que o leitor fique fazendo uma alta ideia do escrevedor. Mas para isso ele não pode dizer a verdade, porque senão o leitor fica vendo que era um homem igual aos outros. Logo, tem de mentir com muita manha, para dar ideia de que está falando a verdade pura.
Dona Benta espantou-se de que uma simples bonequinha de pano andasse com ideias tão filosóficas.
— Acho graça nisso de você falar em verdade e mentira como se realmente soubesse o que é uma coisa e outra.
LOBATO, Monteiro. Memórias da Emília. In: . Obra infantil completa: São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 632.
Edição centenário: 1882-1982.
No texto 1, com a expressão “na sua boquinha”, Dona Benta