Explicaê

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OS DOIS RATINHOS

  

Fábula recontada por  

Ana Maria Machado

 

Era uma vez dois ratinhos. Bom, na verdade, eram dois camundongos, desses bem pequeninos quer vivem nas casas velhas. E era mesmo onde eles moravam, numa casa de fazenda que já tinha sido de avós e bisavós de gente. Por isso, a madeira cedia num lugar, o reboco descascava em outro, um pedacinho de taipa caía mais adiante... Era uma maravilha de moradia para ratinhos e camundongos. Havia túneis pelas paredes, amplas avenidas no forro e vastos descampados no porão, além de ruas e vielas por todo o esqueleto da casa.

Pois uma dessas ruas é a que nos interessa – e era a que mais interessava a eles. A que desembocava na cozinha.

Uma noite, os camundongos saíam para um passeio na cozinha. Era sempre uma festa.

Tinha lingüiça no fumeiro por cima do fogão de lenha.

Tinha chouriço pendurado na despensa.

Tinha queijo na prateleira.

Tinha um saco de fubá num canto.

Tinha tanta coisa para comer que nem dá para lembrar tudo.

Os dois ratinhos se banquetearam, se empanturraram, até se fartarem. Depois, deu sede. Mas um deles ainda tinha lugar na barriga para comer mais um bocadinho. Enquanto discutiam se já deviam ir beber água ou não, viram uma tigela imensa, coberta por um pano de prato de beiradas bordadas em ponto de cruz.

Foram olhar de perto. Era leite, que a cozinheira deixara para fazer coalhada. Uma tigela cheinha, quase transbordando.

Pronto! Era a solução! Assim matavam a sede e o restinho de fome ou gulodice ao mesmo tempo.

Mas, quando se equilibraram na borda da tigela para beber, um deles perdeu o equilíbrio e plaft! Caiu lá dentro. Na queda, tentou se agarrar ao rabo do outro e plaft! O segundo ratinho também caiu.

Começaram a tentar sair. Mas era difícil, a borda da tigela escorregava. E eles estavam pesados, de barriga cheia. Nadaram e se debateram, mas não dava para se apoiarem e saírem. Foram nadando, se debatendo e ficando cansados.

Um deles simplesmente desistiu. O outro resolveu que não ia entregar os pontos. Nadava, nadava, mesmo que fosse em círculos, só para não parar de lutar. Quando cansava muito, boiava ou se agarrava à borda e depois voltava a nadar. Passou assim a noite toda.

De manhã, quando a cozinheira chegou à cozinha e levantou o pano de prato bordado que cobria a tigela da coalhada, teve duas surpresas. Lá dentro tinha um camundongo morto. Mas a surpresa maior não foi essa. Foi ver que a coalhada tinha virado manteiga de tanto ser batida. E por cima havia, muito nítido, um caminho feito de rastros – as pegadas frescas de um ratinho que saíra caminhando sobre a manteiga e fora embora.

 

Moral: se é fábula, tem que ter moral, mas eu prefiro que você a descubra.

  

(Fonte: MACHADO, Ana Maria (org.) O tesouro das virtudes para crianças. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. p.17-18.)

 

Logo que caíram na tigela, os ratinhos começaram a tentar sair. O que dificultou a saída deles?

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