Leia o texto a seguir e depois responda à questão.
O GRANDE MÁGICO
Mário Goulart
Às vezes o tio Plácido junta a gente no quarto pra fazer brincadeira.
Uma que a Betinha gosta muito é quando ele fica com a cara séria olhando pra ela e de repente – au! – faz de conta que é um cachorro. Ela morre de rir. Mas eu gosto mais das mágicas.
Um dia ele disse que ia realizar a “grande proeza” de fazer desaparecer tudo o que estava ali: a minha cama, a cama do Doga, o guarda-roupa, a mesa, o videogame, o baú, nosso material escolar (esse a gente bem que gostaria, vi isso na cara do Doga também), mais um monte de coisas e mais a gente junto.
Essa era de doer. O tio Plácido às vezes se atrapalhava com as cartas do baralho. Mas ele jurou que ia fazer aquilo. Era pra gente dar adeus e tudo, mas não era pra se preocupar muito que dali a pouco ele fazia o quarto aparecer de novo.
Então começou.
- Atenção, pessoal, todo mundo fechando os olhos.
A Betinha fechava só um pouquinho e abria em seguida e o tio disse que assim ela atrapalhava a mágica. Mas é que ela não conseguia mesmo, de tão curiosa que ela é. Então amarramos um lenço no rosto dela.
E a mágica começou.
- Atenção, pessoal, todo mundo...
Mas o Doga estava com um olho bem aberto atrás dos dedos e o tio disse que daquele jeito não dava. Aí eu vi que ele estava mesmo falando sério, que podia fazer desaparecer todo o quarto e perguntei se ele não queria fazer desaparecer um amigo meu que eu não gostava muito. Ele disse que podia, mas depois teria que fazer aparecer de novo. Eu disse que já servia. O Doga aproveitou e disse que também queria se livrar dumas pessoas e olhou pra mim. Muito engraçadinho, mas eu achava que ele queria mesmo se livrar de mim. (Principalmente quando eu pensava que ele era extraterrestre.)
Mas o tio disse que queria fazer a mágica de uma vez, antes que ele perdesse a força.
- Todo mundo com os olhos fechados.
A Betinha ia tirar a venda, mas ficou quieta.
O tio fez voz grossa:
- Cataplum, cataplum, ah, que mágico sou eu! Vejam, o quarto desapareceu!
Aí abrimos os olhos, e o que enxergamos? O mesmo quarto, tudinho igual.
O tio tirou o lenço da Betinha, ela olhou para tudo que era lado e também não estava vendo nada diferente.
E o tio lá, bem satisfeito, com os braços cruzados, sorrindo e olhando pra gente.
- Cadê a mágica, tio? – eu perguntei.
- Ué! – ele disse. – Vocês não viram?
A gente olhou de novo e o quarto continuava ali.
- Me digam uma coisa – disse o tio. – Quando vocês fecharam os olhos viram alguma coisa?
- Não – a gente respondeu tudo junto.
- Pois então? Fiz o quarto desaparecer.
Aí a gente quis reclamar, mas achamos melhor rir.
Mário Goulart nasceu no Rio Grande do Sul, na cidade de Uruguaiana. É jornalista e escritor. O grande mágico foi retirado do livro Tio Herói, publicado pela Editora Dimensão. A história, que já foi premiada, traz uma série de contos narrados por um garoto e o seu divertido tio, que tem muitas ideias mirabolantes, como esta que você acabou de ler.
(Fonte: Revista Ciência Hoje das Crianças – ano 23 – nº 219 – Dezembro de 2010)
Por que o tio Plácido insistia que só poderia fazer a mágica se todos estivessem de olhos fechados?