Leia uma parte da história dessa família e responda
PAI SEM TERNO E GRAVATA
Ia fazer um ano que papai estava desempregado, quando tia Gina, a irmã mais velha de mamãe, veio nos visitar. Muito gorda e brincalhona, tia Gina parecia um raio de sol, entrando em nossa casa.
- Santo Deus, morreu alguém por aqui? Quando vai ser a missa de sétimo dia? – ela foi chegando e perguntando.
Fez a maior festa com a gente. Falou que eu estava ficando mocinha. Chamou o Nando de meu sobrinho gatão. Contou piadas engraçadas, trouxe presentes para todos nós.
Tia Gina é solteira e mora no Rio de Janeiro. Todo ano ela passa alguns dias aqui em casa. Ninguém consegue ficar triste perto dela. Foi tão bom ouvir de novo o riso de papai!
- Otávio, esquece esse negócio de procurar emprego. Parte pra outra, homem – ela disse. E continuou: - Você é tão habilidoso para trabalhos manuais. Por que não se inscreve na Feira de Artesanato? Lá no Rio está cheio de médicos, advogados e engenheiros vivendo disso.
- Mas fazer o quê, Georgina?
- Coisa de madeira. Você não adora bancar o marceneiro de fim de semana? Pois faça isso todos os dias.
Ela disse que ele devia fazer porta-joias, cabideiros, porta retratos, cestos de lixo e outros pequenos objetos.
- E você, Vera? Você também é habilidosa. Por que não faz alguma coisa? Bonecas de pano ou almofadas, por exemplo. Olhe, eu posso conseguir uns moldes lindos com uma amiga. O que acha disso?
Papai e mamãe, na hora, não ficaram muito animados com a ideia. Mas tia Gina não voltou para o Rio antes de ir junto com eles fazer a inscrição na Feira de Artesanato.
Daí uns dias ela mandou os moldes e mais ideias.
Já faz seis meses que tia Gina veio visitar a gente. Hoje é domingo, dia de feira. Papai e mamãe levantaram bem cedo e já foram para a praça. O Ricardo foi junto. Enquanto papai atende os fregueses, ele e mamãe cuidam dos embrulhos. O Nando ajudou o papai na fabricação aqui em casa, mas quase não tem tempo. Ele não passou no vestibular. Agora trabalha o dia todo no escritório de um amigo nosso e faz cursinho à noite.
Eu não fui à feira hoje porque estou gripada. Mas gosto de ajudar. O que eu mais gosto é de pintar a carinha das bonecas de pano que mamãe faz. Principalmente dos palhacinhos. Eu pinto carinhas de todo tipo: alegres, tristes ou espantadas. É um barato!
(...)
AGOSTINHO, Cristina. Pai sem terno e gravata. São Paulo: Moderna, 1985.
Por que o título da história é “pai sem terno e gravata”?