As ciências naturais eram-lhe queridas e familiares; e uma insaciável e religiosa curiosidade do Universo impelira-o a estudar tudo o que divinamente o compõe, desde os insetos até aos astros. Estudos carinhosamente feitos com o coração — porque Fradique sentia pela Natureza, sobretudo pelo animal e pela planta, uma ternura e uma veneração genuinamente budistas. “Amo a Natureza (escrevia-me ele em 1882) por si mesma, toda e individualmente, na graça e na fealdade de cada uma das formas inumeráveis que a enchem; e amo-a ainda como manifestação tangível e múltipla da suprema Unidade, da Realidade intangível, a que cada Religião e cada Filosofia deram um nome diverso e a que eu presto culto sob o nome de VIDA. Em resumo adoro a Vida — de que são igualmente expressões uma rosa e uma chaga, uma constelação e (com horror confesso) o conselheiro Acácio. Adoro a Vida e, portanto, tudo adoro — porque tudo é viver, mesmo morrer. Um cadáver rígido no seu esquife vive tanto como uma águia batendo furiosamente o voo. [...].”.
QUEIROZ, E. de. Correspondência de Fradique Mendes. In: Obras de Eça de Queiroz. Porto: Lello & Irmão Editores, 1966.
O fragmento apresenta um discurso em que tanto o narrador quanto a personagem Fradique, biografada, apresentam considerações sobre Fradique em relação à natureza. O narrador, ao caracterizar Fradique,