TEXTO I
GOGH, V, van. O Café à Noite. Disponível em https://sinucanews.com.br/. Acesso em: 20 out. 2021.
TEXTO II
No museu
O pintor de roxas faces disse adeus à mãe e foi direto ao museu conversar com o seu quadro predileto. Trata-se do Café à noite, de Van Gogh.
Todos os dias, após o almoço, bate na porta da conhecida casa de arte, sendo recebido por Lipont, simpático general responsável pela guarda das telas.
Há dez anos conversa com o homem de branco e de misteriosos cabelos verdes que se mantém de pé, bem perto da mesa de snooker. São velhos amigos?
O que o público não tem notado é a sensível modificação da bela pintura. O pintor de roxas faces, frustrado, fez um pacto com o homem de branco e de misteriosos cabelos verdes: libertá-lo-ia do quadro se subvertesse todo o ambiente, pois odiava Van Gogh, o grande gênio. E assim foi feito.
O relógio, que no quadro antes marcava doze horas e quatorze minutos, agora está atrasado, assinalando quinze para as oito; sobre a mesa, sete bolas coloridas; desaparecido o taco; dos três lampiões, um apenas se encontra aceso; no chão manchas de sangue sugerindo luta; na parede vermelha uma rachadura em forma de V e a cabeça de todos os fregueses pendidas sobre as cadeiras. A famosa obra está finalmente transformada.
Quando faz menção de levantar-se, o homem de branco e de misteriosos cabelos verdes pergunta, baixinho, se não irá libertá-lo.
– Ora, a libertação está em ti.
Sai zombando, mas não consegue ultrapassar a porta. O velho militar retira um antigo punhal de suas costas. A polícia ainda o está investigando e os seus depoimentos, por incrível que pareça, são considerados contraditórios.
PRADE, P. No museu. In: PRADE, P. Os milagres do cão Jerônimo; Alçapão para gigantes. Florianópolis: Editora da UFSC, 2019.
No texto II, um fragmento de Os milagres do cão Jerônimo, Péricles Prade apresenta “O pintor de roxas faces, frustrado”, que “odiava Van Gogh”, numa sugestão de que o pintor visitante invejava de Van Gogh. O texto I, em relação ao texto II, permite ao leitor