Esse período de afirmação nacional necessitava, no nível da cultura de suas elites, de um complexo mitológico suscetível de celebrar a originalidade da jovem pátria ante a Europa e a ex-metrópole. Nesse ponto, entram em função o exotismo romântico, estimulado pelo americanismo de Chateaubriand e Fenimore Cooper, e o gosto pelo passado remoto, pois a sociedade tribal ameríndia de antes da Descoberta era, de fato, a nossa “Idade Média”. Os românticos brasileiros descobrem assim no indianismo o alimento mítico reclamado pela civilização imperial, na adolescência do Brasil nação. O amparo que o mecenato oficial deu à épica indianista traduz plenamente o reconhecimento dessa função ideológica. Ao mesmo tempo, a ruptura com a mitologia clássica – com as ninfas arcádicas – em proveito do folclore indígena e da pintura tropical recebeu o incentivo de românticos europeus: do francês Ferdinand Denis (1798-1890), que vivera entre nós na véspera da Independência; dos portugueses Garrett e Alexandre Herculano.
MERQUIOR, J. G. De Anchieta a Euclides: Breve história da Literatura Brasileira. São Paulo: É Realizações, 2014.
De acordo com o texto,