O rumor crescia, condensando se; o zunzum de todos os dias acentuava se; já se não destacavam vozes dispersas, 1mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam se* discussões e rezingas**; 2ouviam- se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava se. Sentia se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, 3o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
Da porta da venda que dava para o cortiço iam e vinham como formigas; fazendo compras.
Duas janelas do Miranda abriram se. Apareceu numa a Isaura, que se dispunha a começar a limpeza da casa.
– Nhá Dunga! 4gritou ela para baixo, a sacudir um pano de mesa; se você tem cuscuz de milho hoje, 5bata na porta, ouviu?
Aluísio Azevedo, O cortiço.
* ensarilhar se: emaranhar se.
** rezinga: resmungo.
(FUVEST 2018 1ª FASE) Constitui marca do registro informal da língua o trecho