Duas coisas prega hoje a Igreja a todos os mortais, ambas grandes, ambas tristes, ambas temerosas, ambas certas. […] Uma grande, outra maior; uma triste, outra alegre; uma temerosa, outra segura; uma certa e necessária, outra contingente e livre. E que duas coisas são estas? Pó e pó. O pó que somos: Pulvis es, e o pó que havemos de ser: In pulverem reverteras. O pó que havemos de ser é triste, é temeroso, é certo e necessário, porque ninguém pode escapar da morte; o pó que somos é alegre, é seguro, é voluntário e livre, porque se nós o quisermos entender e aplicar como convém, o pó que somos será o remédio, será a triaga, será o corretivo do pó que havemos de ser.
VIEIRA, Antônio. Sermões de quarta-feira de cinza. Campinas: Unicamp, 2016.
No fragmento, retirado do segundo “Sermão de quarta-feira de cinza”, pregado por Padre Antônio Vieira, em Roma, no ano de 1673, é empregada uma figura de linguagem característica da estética barroca, a antítese. No excerto, esse recurso expressivo: