(UNIPÊ) Sobre o fenômeno da refração luminosa, é correto afirmar:
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Disponível em: www.cartoonstock.com. Acesso em: 21 ago. 2017.
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CANÇÃO DO VER
[1] Fomos rever o poste.
O mesmo poste de quando a gente brincava de pique
e de esconder.
Agora ele estava tão verdinho!
[5] O corpo recoberto de limo e borboletas.
Eu quis filmar o abandono do poste.
O seu estar parado.
O seu não ter voz.
O seu não ter sequer mãos para se pronunciar com
[10] As mãos.
Penso que a natureza o adotara em árvore.
Porque eu bem cheguei de ouvir arrulos1 de passarinhos
que um dia teriam cantado entre as suas folhas.
Tentei transcrever para flauta a ternura dos arrulos.
[15] Mas o mato era mudo.
Agora o poste se inclina para o chão − como alguém
que procurasse o chão para repouso.
Tivemos saudades de nós.
Manoel de Barros Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010.
A memória expressa pelo enunciador do texto não pertence somente a ele.
Na construção do poema, essa ideia é reforçada pelo emprego de:
- Língua Portuguesa | 1. Interpretação de Textos
Texto 1
O TEMPO
[1] Sobraram de tudo, com mais legendas,
o palacete do barão, ruínas, o sobrado do
fisco, onde se cobrava o quinto do rei, e a
capela, que foi promessa de mulher-dama,
[5] convertida após amealhar ouro e diamantes
dos forasteiros que chegavam, sendo que
essa mesma capela é hoje ninho de
morcegos e corujas. Sobraram também as
velhas casas de beirais e cornijas, mais
[10] sobrados, sem portas nem janelas, olhos
vazados: fixam o tempo e a eternidade,
parados na tarde. Restaram ainda as velhas
de muita velhice. Elas pitam os cachimbos,
comem as próprias bocas e trazem
[15] lembranças do passado.
- Muita coisa a contar, seu moço.
Histórias muitas.
Foi chão de mineração, com o braço de
rio, a serra, com veios de ouro, o
[20] pedregulho solto em cor de ferro ou
ferrugem. No tempo bem mais antigo,
muitos escravos, nus da cintura para cima e
de calças arregaçadas, mergulhavam as
bateias e peneiravam o cascalho. Onda de
[25] aventureiros. Alguns estrangeiros. Abriram
galerias na serra, que hoje são também
moradas de morcegos, a picareta seguia o
filão de ouro. Crimes e iniquidades: o
alemão de barbas e botas, que apareceu
[30] morto e roubado no alpendre da casa; o
preto Ludovico, que, por suspeita, foi
obrigado a tomar dose dupla de pinhão,
para expelir o diamante raro. O negro, com
licença da palavra, se desfazia em merda e
[35] suor, o feitor catando a pedra no chão com
a ponta da vara.
Dinheiro abundante para gasto e
divertimento de todos. O bar, as cartas, a
cerveja e as mulheres. Fandangos e bumbameu-
[40] boi. Também as missões de expurgo,
quando chegava Frei Nemésio, casando
amancebados e purificando menino pagão,
os pecados todos condenados em sermão de
fogo pelas barbas venerandas de Frei
[45] Nemésio, e perdoados enfim com a grande
procissão de velas.
- Senhor Deus, misericórdia.
E a procissão de velas:
- Misericórdia.
[50] Outras festas havia. Cavalhadas ou
justas, por iniciativa do próprio barão, que
se apresentava no palanque em ordem de
comando e respeito, o cebolão de ouro, com
corrente pesada, no bolso do colete.
[55] De todos os crimes, o de maior força foi
o desse mesmo barão: viúvo, teve relações
de incesto com a filha. Daí o abandono de
tudo. O palacete dele em ruínas, coberto
pela erva daninha, refúgio de cobras e
[60] lagartos.
- Que fortes são os poderes de Deus.
- E diga.
Por maldição do crime e também pelo
braço de rio que secou e o veio de ouro que
[65] se perdeu, tudo foi entrando em abandono.
As levas de homens que se retiravam da
noite para o dia. O vazio dos arruados, os
armazéns que se fechavam. Havia muito
cerrara as portas o sobrado do fisco para a
[70] cobrança do quinto. Menino que se fizesse
rapaz, por insinuação de um ou outro rádio
de pilhas ou viandante raro que por ali
passasse, dava para emigrar ou fugir, ou
ficava atoleimado, se escondendo de pessoa
[75] estranha, sem saber dar respostas.
Bichos.
E o mundo se fez silêncio, espaço e
tempo infinitos, com aquelas velhas casas
de olhos vazados, onde ruminavam cabras e
[80] carneiros, o telheiro do mercado arriado. Por
força de alguma vida, restou, na esquina, a
venda de Seu Aniceto, também viveiro de
ratos em correria pelas prateleiras, com
uma ou outra garrafa empoeirada.
[85] Por último começou a parar por ali o
caminhão do Nozinho, que traz de longe
carregamento de minério descoberto em
mina nova. Nozinho descobriu, entre as
velhas, menina-moça, que quer ir com ele
[90] na boleia. O caminhão chega em grande
alegria de buzina e rádio aberto, as
bandeirinhas coloridas. Todos acorrem, e
Nozinho, por ele mesmo, é de muita prosa,
enquanto salta, escarra no chão e tange
[95] com o pé o cachorro magro. Então Seu
Aniceto, em nome de todos, talvez, e mais
no seu interesse e ainda porque era fim de
dezembro, supunha, pediu a Nozinho que
lhe trouxesse o tempo marcado. É que
[100] estavam perdidos dentro do mundo, sem
contagem de dia, mês ou ano, mas existindo
dia e noite para a orientação de todos:
- Que dia é hoje, por exemplo?
- Quarta.
[105] Está aí, ninguém sabia.
E Nozinho, na viagem de volta, trouxe o
Tempo em forma de calendário, não com
fotografia de mulher nua, como gostava,
mas com a estampa de Nossa Senhora das
[110] Dores, o coração trespassado por sete setas,
que era assim que apreciavam as velhas de
muita velhice que comiam as próprias bocas
e se arrimavam às paredes.
(Moreira Campos. Obra completa: contos. p. 326-328.)
Há, no conto, alguns indícios textuais que levam o leitor a inferir uma mistura de vozes, isto é, a manifestação de outra ou outras vozes além da voz do narrador. Escreva V ou F, conforme o que está abaixo funcione ou não como pista dessa outra voz no texto em estudo.
( ) O emprego do travessão nas linhas 16, 47, 49, 61, 62, 103 e 104.
( ) A referência a detalhes de episódios muito específicos.
( ) As expressões com licença da palavra, (o negro) se desfazia em merda e suor (linhas 33 a 35); o adjetivo atoleimado (linha 74).
( ) O juízo de valor expresso pelo substantivo Bichos, na linha 76.
( ) O estilo deste excerto: o mundo se fez silêncio, espaço e tempo infinitos, com aquelas velhas casas de olhos vazados, onde ruminavam cabras e carneiros, o telheiro do mercado arriado. (linhas 77 a 80).
Está correta, de cima para baixo, a sequência: