Chegou de Montes Claros uma irmã nora de tia Clarinha e foi visitar tia Agostinha no Jogo da Bola. Ela é bonita, simpática e veste-se muito bem. […] Ficaram todas as tias admiradas da beleza da moça e de seus modos políticos de conversar. Falava explicado e tudo muito correto. Dizia “você” em vez de “ocê”. Palavra que eu nunca tinha visto ninguém falar tão bem; tudo como se escreve sem engolir um “s” nem um “r”. Tia Agostinha mandou vir uma bandeja de uvas e lhe perguntou se ela gostava de uvas. Ela respondeu “Aprecio sobremaneira um cacho de uvas, Dona Agostinha”. Estas palavras nos fizeram ficar de queixo caído. Depois, ela foi passear com outras e Iaiá aproveitou para lhe fazer elogios e comparar conosco. Ela dizia “Vocês não tiveram inveja de ver uma moça […] falar tão bonito como ela? Vocês devem aproveitar a companhia dela para aprenderem”. […] Na hora do jantar, eu e as primas começamos a dizer, para enfezar Iaiá: “Aprecio sobremaneira as batatas fritas”, “Aprecio sobremaneira uma coxa de galinha”.
MORLEY, H. Minha vida de menina: cadernos de uma menina provinciana nos fins do século XIX. Rio de Janeiro: 1997.
Nesse texto, no que diz respeito ao vocabulário empregado pela moça de Montes Claros, a narradora expõe uma visão indicativa de: