O exercício da crônica
Escrever prosa é uma arte ingrata.Eu digo prosa fiada,como faz um cronista;não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano,a coisa fia mais fino.Senta-se diante de sua máquina, acende um cigarro, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo.
MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas. São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
Nesse trecho, Vinicius de Moraes exercita a crônica para pensa-la como gênero e prática. Do ponto de vista dele,cabe ao cronista
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- Língua Portuguesa - Fundamental | Não Possui Tópico Definido
O poço e o pêndulo
Eu estava esgotado – mortalmente esgotado por aquela longa agonia; e quando enfim me desataram, e foi-me dada a permissão de sentar, percebi que os sentidos me faltavam. A sentença – a pavorosa sentença de morte – foi a última de distinta articulação a chegar aos meus ouvidos. Depois disso, o som das vozes inquisitoriais pareceu fundir-se em um único murmúrio vago e onírico.
[...]
Até esse momento, eu não abrira os olhos. Senti que jazia de costas, desatado. Estiquei a mão, e ela caiu pesadamente sobre alguma coisa úmida e dura. Deixei-me aí ficar por vários minutos, enquanto me empenhava em imaginar onde e no que podia estar. Ansiava, e contudo não ousava, empregar a visão. Aterrorizava-me o impacto inicial dos objetos em torno de mim. Não que eu temesse ver coisas horríveis, mas fui invadido por um crescente pavor de não haver nada para ver. Finalmente, com descontrolado desespero no coração, abri rapidamente os olhos. Meus piores pensamentos foram, então, confirmados. O negror da noite eterna me engolfava. Lutei para respirar. A intensidade das trevas parecia me oprimir e sufocar. A atmosfera era intoleravelmente opressiva. Continuei deitado, imóvel, e esforcei-me por exercitar a razão. Evoquei em minha mente o processo inquisitorial, e tentei a partir desse ponto inferir minha real condição. A sentença fora proferida; e a mim me pareceu que um intervalo muito longo de tempo transcorrera desde então. Contudo, nem sequer por um momento supus que estivesse morto de fato. Tal suposição, não obstante o que lemos na ficção, é completamente inconsistente com a existência real; – mas onde e em que estado eu me encontrava? Os condenados à morte, eu sabia, eram normalmente executados nos autos de fé, e um desses fora realizado na exata noite de meu julgamento. Estaria eu sendo mantido sob custódia em meu calabouço, a fim de aguardar o sacrifício seguinte, que não teria lugar senão dali a muitos meses? Percebi na mesma hora que tal não podia ser. As vítimas haviam sido reclamadas de imediato. Além do mais, meu calabouço, assim como as celas de todos os condenados em Toledo, tinha piso de pedra, e a luz não era completamente excluída.
Uma assustadora ideia agora de repente fez o sangue fluir incontrolavelmente em meu coração e, por um breve período, mais uma vez recaí na insensibilidade. Assim que me recuperei, fiquei de pé na mesma hora, tremendo convulsivamente em cada fibra. Agitei os braços freneticamente acima e em torno de mim, em todas as direções. Nada senti; contudo, hesitava em dar um passo, com receio de ser bloqueado pelas paredes de uma tumba. O suor brotava de cada poro, e formava grossas gotas em minha fronte. A agonia do suspense cresceu até se tornar intolerável e cuidadosamente me movi para a frente, com os braços estendidos, e meus olhos esforçando-se em suas órbitas, na esperança de captar algum débil raio de luz. Avancei vários passos; mas o negror e o vazio continuaram. Respirei mais facilmente. Parecia evidente que o meu não era, ao menos, o mais hediondo dos destinos.
POE, Edgar Allan. Contos de imaginação e mistério. Trad. Cássio de Arantes Leite.
São Paulo: Tordesilhas, 2012. p. 49. Fragmento.
Glossário:
Autos de fé – diz-se de eventos realizados em praça pública para punir os condenados pela Inquisição.
Leia as afirmações:
I. O tempo psicológico é construído no conto por meio do relato minucioso das reflexões do narrador.
II. Pela leitura desses fragmentos, podemos concluir que se trata de uma narrativa maravilhosa, com acontecimentos inexplicáveis pelas leis do mundo natural.
III. O foco narrativo não inviabiliza o efeito de suspense, apesar de o leitor saber que a personagem continua viva para contar sua história.
IV. O conhecimento do narrador é tão limitado, que ele nem mesmo sabe se a sentença de morte foi realmente proferida ou foi uma visão onírica (de sonho).
Estão corretas apenas as afirmações:
- Física | 3.2 Dilatação
(UNESP) Dois copos de vidro iguais, em equilíbrio térmico com a temperatura ambiente, foram guardados, um dentro do outro, conforme mostra a figura. Uma pessoa, ao tentar desencaixá-los, não obteve sucesso. Para separá-los, resolveu colocar em prática seus conhecimentos da física térmica.
De acordo com a física térmica, o único procedimento capaz de separá-los é:
- Biologia | 03. Bioquímica
(Unime) A anemia falciforme é comum em populações africanas que apresentam maior resistência ao parasita da malária — o plasmódio, transmitido pelas fêmeas de mosquito do gênero Anopheles. O sangue dessas pessoas tem uma forma variante de hemoglobina — a hemoglobina S, possuindo genótipo HbS/HbS. Pessoas sadias, que não apresentam a doença, nem são portadoras do alelo mutante, são homozigotas HbA/HbA.
A análise das informações apresentadas, considerando-se o contexto genético e evolutivo, permite afirmar corretamente:
- História | 1.5 Ciclo do Açúcar e Sociedade Colonial
O que interferia no cotidiano dos colonos era a presença inamistosa dos habitantes originais da Terra de Santa Cruz. Por esse motivo a instalação da cana encontrou inicialmente embaraço na resistência indígena. A luta contra os potiguares do Ceará, para ficar em apenas um exemplo, foi árdua e sangrenta. Na Bahia, foi preciso esmagar Paiaiá, Acroá e Amoipira, além de chacinar índios Jaguaribe e Paraguaçu, para desbastar terras que acolhessem a voraz gramínea.
DEL PRIORE, M. História da gente brasileira: volume 1 - colônia. São Paulo: Editora Leya, 2016.
A implantação da cultura canavieira no Brasil colonial implicou no massacre das populações nativas. Esta relação também pode ser usada para justificar a
- Química | 2.3 Termoquímica
Considere a eletrólise da água decompondo-se em hidrogênio e oxigênio e os seguintes valores de energias de ligação: E[H-H] = 104,20 kcal/mol; E[O=O] = 119,02 kcal/mol; E[O-H] = 111,61 kcal/mol.
A variação de entalpia no sistema em kcal/mol para 1 mol de água é, aproximadamente,