Leia o texto de Mario Cesar Carvalho para responder à questão.
O cigarro provoca vinte e seis enfermidades fatais (onze tipos de câncer, seis doenças cardiovasculares, cinco respiratórias e quatro pediátricas), encurta em cinco anos a vida de quem consome quinze unidades por dia e causa uma dependência tão grave quanto a da heroína. Por que, então, um quinto do planeta fuma?
A resposta mais frequente atribui o vício à propaganda maciça. É claro que a publicidade ajudou o fumo a alastrar-se pelo mundo, e a indústria do cigarro é das que mais investem em propaganda. Mas acreditar que o fumante é um autômato movido a impulsos externos de desejo seria subestimar em demasia a inteligência humana.
Exatamente como ocorre com os detratores das drogas, os inimigos do fumo tentam esconder o óbvio − que o cigarro é prazeroso para quem fuma. Desvendar esse prazer é, talvez, o melhor atalho para entender por que o cigarro conquistou o mundo.
A sensação de prazer é verdadeira, mas a impressão de que o cigarro acalma, relaxa e funciona como estabilizador do humor é tão falsa quanto uma nota de R$ 3,00. Na verdade, a sensação de relaxamento ocorre porque a nicotina agiu sobre um mecanismo que ela própria criou − o da dependência.
Ao tragar um cigarro, o fumante acalma-se porque estava em crise de abstinência. A nicotina que ele consumira já se dissipou no organismo. Aí, começam os sintomas da falta de nicotina − uma ansiedade que parece saltar pela boca, como se fosse sólida, acompanhada de irritação, nervosismo e incapacidade de concentrar-se. Quando se aspira o cigarro, a crise de abstinência é interrompida, e tem-se a sensação de relaxamento. Estritamente falando, a nicotina não acalma nem estabiliza o humor. Ela só alivia os sintomas provocados por sua própria falta; é a cura para um mal que ela própria criou. É uma platitude1, mas quem nunca fumou não tem crise de abstinência.
(O cigarro, 2001. Adaptado.)
1platitude: obviedade.
Segundo o texto,