Escrever e Argumentar
(1) O texto é como um iceberg: ele apresenta uma pequena parte na superfície da água (os elementos linguísticos que compõem sua materialidade) e uma imensa superfície subjacente (todos os conhecimentos que necessitam ser ativados para a produção de um sentido). Quanto maior a bagagem de conhecimentos de que o leitor/ouvinte dispuser, mais facilidade ele terá de chegar às profundezas do iceberg, para delas extrair os elementos que lhe vão facultar a produção de um sentido adequado para o texto que ouve ou lê.
(2) Visto que é difícil haver textos totalmente explícitos, o escritor competente deve ter a habilidade de realizar de forma adequada o “balanceamento” do que não pode deixar de ser dito e do que pode (ou deve) permanecer implícito, por ser recuperável via inferenciação.
(3) Argumentar consiste em influenciar o nosso interlocutor por meio de argumentos, cuja constituição demanda apresentação e organização de ideias, bem como estruturação do raciocínio que será orientado em defesa da tese ou ponto de vista, visando à adesão do interlocutor. Quanto mais os argumentos forem sustentados em provas que podem ser fatos, exemplos, opiniões relatadas, dados estatísticos, mais chances teremos de ser bem-sucedidos em nosso intento.
(4) Assim, argumentar pressupõe intencionalidade e aceitabilidade, ou seja, de um lado, há aquele que constrói argumentos para influenciar o interlocutor e conseguir seu intento; e de outro, aquele que é alvo desse processo, o interlocutor, e que tem a liberdade de considerar ou não a validade dos argumentos, de aceitar ou não a tese defendida numa postura que em nada remete à ideia de passividade, nem simplesmente à emoção.
(5) Isso significa dizer, com base em Meyer (2008), que toda argumentação é dialógica, porque envolve sujeitos, seus conhecimentos e formas de compreensão da realidade; porque pressupõe liberdade de pensar e expressar o pensamento. Daí não ser suficiente apenas justificar uma tese, mas também considerar a existência de teses contrárias que podem ser evocadas, citadas, refutadas, ou em relação às quais podemos fazer alguma concessão.
(6) Na argumentação, queremos e buscamos a adesão do nosso interlocutor, mas sem cancelar o diálogo, a subjetividade, atitude que requer sempre atenção e respeito ao outro e às suas razões, às diferenças que são próprias entre os indivíduos.
(Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2016, p 34. Adaptado).
A coesão é definida como uma regularidade atestada nos textos, independentemente de sua extensão. Podemos identificar no Texto recursos que, de alguma maneira, têm a função de promover essa coesão, ou a continuidade semântica, do texto, responsável por sua coesão e sua coerência. Entre os recursos que criam e sinalizam a referida continuidade, podemos citar:
1) o recurso à repetição de palavras, como ‘argumentar’, ‘argumentos’, ‘argumentação’, ‘interlocutor’, ‘tese’.
2) o emprego de palavras que exigem uma volta a partes anteriores do texto para recuperar sentidos e referências, como ‘assim’, ‘isso’, ‘daí’, ‘ele’.
3) o uso de palavras fora do padrão coloquial e de palavras segundo as normas da linguagem formal.
4) a presença de palavras afins semanticamente como em: ‘pensar’ e ‘expressar’; ‘diálogo’ e ‘interlocutor’; ‘conhecimento’ e ‘compreensão da realidade’; ‘argumentos’ e ‘tese’ etc.
5) o uso de conectivos (preposições e conjunções), de vários tipos, como: ‘visto que’, ‘cuja’, ‘mas’, ‘porque’, ‘ou seja’, ‘para’ etc.
Estão corretas: