Sobre a Música
Josef Pieper
(Trad.: Sivar Hoepner Ferreira,
de "Über die Musik" - fala em uma sessão de Bach
- in Nur der Liebende singt, Schwabenvlg., 1988)
O fato de que quem filosofa - sobretudo quando se ocupa da dinâmica da formação e da realização do ser humano - dedique especial atenção a meditar sobre a essência da música, não é casual nem movido por "interesses musicais" pessoais. Essa atenção especial remete, antes, a uma grande tradição que remonta quase à origem dos tempos, a Platão, a Pitágoras e às doutrinas de sabedoria do Extremo Oriente.
E isto não se deve somente ao fato de a filosofia ter por objeto coisas "espantosas" (para as quais, como afirmam Aristóteles e Tomás de Aquino, deve especificamente voltar-se quem filosofa) - não é somente porque a música é mirandum, uma das coisas mais maravilhosas e misteriosas do mundo. Não é só, tampouco, pelo fato de que "musicar" é uma atividade da qual se poderia dizer que é um oculto filosofar - um Exercitium Metaphysices Occultum - da alma que, sem saber, filosofava, como diz Schopenhauer na sua profunda discussão para o estabelecimento de uma metafísica da música.
O que a música sempre traz - e este é o fato mais decisivo - ao campo de visão do filósofo é a sua proximidade da existência humana, uma característica específica que torna a música necessariamente objeto essencial para todos os que refletem sobre a realização humana.
A pergunta que especialmente fascina o filósofo que medita sobre a essência da música, é: o que propriamente percebemos quando ouvimos música? Pois, sem dúvida, trata-se de mais (e de outra coisa) que os sons resultantes do roçar as cordas do violino, soprar a flauta ou percutir o teclado – isto tudo ouvem também os mais insensíveis. O que é, então, o que propriamente percebemos, quando ouvimos música de forma adequada?
Para as outras artes essa mesma indagação propõe-se mais facilmente – ainda que a pergunta: "O que é que propriamente vemos quando contemplamos o Rasenstück de Dürer?" também não seja fácil de responder, pois certamente não é o céspede que se apresenta à vista, na natureza ou numa foto – não é este "objeto" que nós propriamente vemos, quando observamos um quadro de forma adequada. O que realmente percebemos quando ouvimos um poema, quando apreendemos a poesia de um poema? Certamente é mais (e é outra coisa) do que o que foi "objetivamente" proferido (isto tem sido identificado na poética como uma impureza, mas é uma "impureza" sem dúvida necessária).
Estas perguntas são, pois, igualmente difíceis de responder. Agora, porém, a pergunta: o que se capta quando se escuta música de "maneira musical"? Será que se trata de um objeto, como nas artes plásticas ou na poesia - onde sempre algo precisa ser representado, algo precisa ser dito (algo objetivo)? A questão não remete a um objeto neste sentido, mesmo quando até grandes músicos muitas vezes pensem que remeta. Não, não é uma "Cena junto ao riacho" ou uma "Tempestade" ou uma "Sociedade alegre dos camponeses" o que propriamente se capta quando se ouve a sexta sinfonia de Beethoven. E o que ocorre com a "Canção" (Gesang)? Não ficaria - pelo menos neste caso - por conta do texto proferido, o que propriamente percebemos quando uma ária ou um recitativo são cantados? Certamente, ouvimos as palavras. Mas percebemos – quando a música é autenticamente grande e quando a ouvimos de maneira certa – um sentido secretíssimo, acima das palavras, um sentido que não percebemos quando somente palavras ouvimos. Este "sentido oculto" não se encontra ao se ler, como algo falado.
Trecho retirado do site: http://www.hottopos.com/videtur8/piepermu.htm
Baseado texto acima, converse com a turma sobre a qualidade da música e a influência que ela exerce sobre o ser humano. Como dito no texto, a música não é mera recreação, mas sob o ponto de vista filosófico, a música traz a proximidade da existência humana, isto é, ela pode despertar no ser humano a reflexão, desde que ela tenha qualidade, tanto é que ao longo da história ela vem marcando os rituais religiosos e práticas de meditação.
Uma vez que a música leva à reflexão, também leva à inspiração. Proponha aos alunos uma atividade dupla, onde a partir de algumas músicas previamente selecionadas e de preferência instrumentais eles criem poemas ilustrados, onde a escolha das cores da ilustração também devem estar em consonância com a música ouvida e depois distribua para cada aluno um poema para que ele em casa escolha uma música instrumental que ele considere expressar o conteúdo do poema.
Abra uma roda de discussão para que os poemas e músicas possam ser compartilhados entre os alunos e aproveite para fazer com eles uma avaliação verbal das atividades realizadas.