Os Velhos
Carlos Drummond de Andrade
Todos nasceram velhos — desconfio.
[185] Em casas mais velhas que a velhice,
em ruas que existiram sempre — sempre
assim como estão hoje
e não deixarão nunca de estar:
soturnas e paradas e indeléveis
[190] mesmo no desmoronar do Juízo Final.
Os mais velhos têm 100, 200 anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
não menos de 50 — enormidade.
[195] Nenhum olha para mim.
A velhice o proíbe. Quem autorizou
existirem meninos neste largo municipal?
Quem infringiu a lei da eternidade
que não permite recomeçar a vida?
[200] Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade
de ser também um velho desde sempre.
Assim conversarão
comigo sobre coisas
seladas em cofre de subentendidos
[205] a conversa infindável de monossílabos,
resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me veem passar. Não me dão
confiança.
[210] Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
[215] nas barbas de milénios.
Sigo, seco e só, atravessando
a floresta de velhos.
ANDRADE, Carlos Drummond. Boitempo II. São Paulo: Record.1986.
TEXTO 6
Velhas Árvores
Olavo Bilac
Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
[220] Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
[225] E os amores das aves tagarelas.
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem,
Na glória de alegria e da bondade,
[230] Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!
BILAC, Olavo. Velhas Árvores. Disponível em: http://www.jornaldepoesia.jor.br/bilac3.html#velhas. Acesso: 24.9.17
Ao tratar do tema da velhice, os poemas acima têm em comum