Texto 1
CINEMA
[1] Entre os meios de comunicação que
padronizam o comportamento de milhões, e
são por isso chamados de massa, o cinema é
o mais antigo, entre nós. A imprensa o
[5] antecedeu, certamente, mas o problema
cronológico não é o essencial no caso.
Exigindo a alfabetização, a imprensa, ainda
que exercendo enorme influência, não teve,
particularmente no passado, característica de
[10] meio de comunicação de massa. A
antecedência do cinema, assim, parece ser
indiscutível. E cinema pode ser apresentado,
e deve, sob o aspecto cultural e sob o
aspecto econômico, material. Nos dois,
[15] fomos, por longos decênios, aqui,
protagonistas de papel passivo: consumimos
influências culturais estranhas, sofremos de
sua penetração e domínio, ao mesmo passo
que constituímos mercado consumidor de
[20] proporções crescentes para a produção
estrangeira de filmes. [...]
Há que pensar, também, na deformação
cultural: há mais de meio século, o cinema
norte-americano trabalha o espírito de
[25] massas brasileiras apresentando o seu way
of life, isto é, o cowboy, o gangster, a
violência desenfreada, e as suas glórias, os
seus mitos, os seus heróis — a sua cultura,
em suma. Que isso tenha sido assim, e
[30] continue a ser assim, constitui, por si só,
anomalia indiscutível, das mais graves e
profundas a que foi já submetida a cultura,
em qualquer época, em qualquer país; mas
que, além disso, essa gigantesca deformação
[35] tenha sido financiada pelas próprias vítimas
— como se aos condenados coubesse pagar
o serviço dos carrascos — constitui um dos
problemas da singular época histórica em
que vivemos. A deformação se apresenta
[40] com dimensões tão extraordinárias e com
duração tão longa que chegou ao cúmulo de
ganhar foros de naturalidade, como se o
contrário é que fosse absurdo.
Por longos e longos decênios, foram
[45] familiares aos brasileiros padrões de
comportamento inteiramente diversos dos
aqui vigentes, e hábitos, e normas, e regras.
Por longos e longos decênios, nossas
crianças adoraram heróis estrangeiros,
[50] sentiram-se fascinadas por seus feitos,
incorporaram impressões e sentimentos
deles derivados à sua cultura. Por longos e
longos decênios, as massas brasileiras
aprenderam histórias norte-americanas,
[55] cultuando feitos norte-americanos, adotando
posições norte-americanas. E, por tudo isso,
há longos e longos decênios, vêm pagando,
e pagando caro [...]. Nossos jovens
assimilam padrões culturais de uma
[60] civilização em crise, angustiada entre o sexo
e a violência. Esse tem sido o papel de
descaracterização cultural que o cinema
norte-americano vem desenvolvendo, há
mais de meio século, no Brasil. Não há
[65] talvez, em toda a história, exemplo tão
gigantesco de alienação cultural.
Nélson Werneck Sodré. Síntese de História da Cultura Brasileira. Extraído da 15ª edição, de 1988. p. 79-80; 91-92. Texto adaptado.
Releia o que o enunciador diz sobre a imprensa no Brasil e marque com 1 as informações explícitas no texto e com 2 o que se pode inferir delas.
( ) A imprensa brasileira, no passado, não teve características de meio de comunicação de massa porque exigia pessoas que soubessem ler.
( ) No Brasil da época, o índice de analfabetismo era muito alto.
( ) A influência cultural da imprensa sobre as massas brasileiras é mais recente que a do cinema.
( ) Os jovens brasileiros assimilaram a cultura norte-americana como se fosse nacional.
( ) Para o enunciador, o prolongado tempo de ação do cinema americano sobre os valores nacionais brasileiros constitui uma anomalia.
Está correta, de cima para baixo, a seguinte sequência: