Explicaê

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Resisti a entrar para o Facebook e, mesmo quando já fazia parte de sua rede,

minha opinião sobre ela não era das melhores: fragmentação da percepção, e portanto da capacidade cognitiva; intensificação do narcisismo exibicionista da cultura contemporânea; . império do senso comum; indistinção entre o público e o privado. Não sei se fui eu quem mudou, se foram

[5] meus “amigos” ou se foi a própria rede, mas, hoje, sem que os traços acima tenham deixado de existir, nenhum deles, nem mesmo todos eles em conjunto me parecem decisivos, ao menos

Na minha experiência: agora compreendo e utilizo a rede social como a televisão do século XXI, com diferenças e vantagens sobre a TV tradicional.

A internet, as tecnologias wiki de interação e as redes sociais têm uma dimensão, para usar

[10] a expressão do escritor Andrew Keen, de “culto do amador”, mas tal dimensão convive com o seu oposto, que é essa crítica da mídia tradicional pela nova mídia, cuvezes nada têm de amadores. Assim, a metatelevisão do Facebook opera tanto selecionando conteúdo da TV tradicional como submetendo-o à crítica. E faz circular ainda informações que

a TV, por motivos diversos, suprime. Alguns acontecimentos recentes, no Brasil e no mundo,

[15] tiveram coberturas nas redes sociais melhores que nos canais tradicionais. A divergência é uma virtude democrática, e as redes sociais têm contribuído para isso (e para derrubar ditaduras onde não há democracia).

A publicização da intimidade, sem nenhuma transfiguração que lhe confira o

estatuto de interesse público, é muito presente na rede. Deve-se lembrar, entretanto, que redes sociais não são

[20] exatamente um espaço público, mas um espaço privado ampliado ou uma espécie nova e híbrida de espaço público-privado. Seja como for, aqui também é o usuário que decide sobre o registro em que prevalecerá sua experiência. E não se deve exagerar no tom crítico a essa dimensão; o

registro imaginário, narcisista, de promoção do eu é humano, demasiadamente humano, e até certo ponto necessário. Deve-se apenas relativizá-lo; ora, essa relativização vigora igualmente

[25] nas redes sociais. Além disso, a publicização da intimidade não significa

necessariamente autopromoção do eu. Ela pode ativar uma dimensão importante da comunicação humana.

Roland Barthes, escritor francês, costumava dizer que a linguagem sempre diz o que diz e ainda diz o que não diz. Por exemplo, ao citar o nome de Barthes, estou, além de dizer o que ele disse, dizendo que eu o li, que sou um leitor culto. Ess[30] indiretamente, era importante para Barthes. Ele adorava o caso da brincadeira de passar o anel, onde o que está em jogo é tanto o roçar das mãos quanto o destino do objeto. Pois bem, fui percebendo que a escrita nas redes sociais é uma forma de roçar as mãos, tanto quanto de saber, afinal, onde foi parar o anel. O indireto dessa escrita, o que por meio dela se diz, é uma pura abertura ao outro.


FRANCISCO BOSCO Adaptado de Alta ajuda. Rio de Janeiro: Foz, 2012.


agora compreendo e utilizo a rede social como a televisão do século XXI, com diferenças e vantagens sobre a TV tradicional. (l. 7-8)


Os termos sublinhados designam mídias distintas para o autor.

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