[1] O passado anda atrás de nós
como os detetives os cobradores os ladrões
o futuro anda na frente
como as crianças os guias de montanha
[5] os maratonistas melhores
do que nós salvo engano o futuro não se imprime
como o passado nas pedras nos móveis no rosto
das pessoas que conhecemos
[10] o passado ao contrário dos gatos
não se limpa a si mesmo
aos cães domesticados se ensina
a andar sempre atrás do dono
mas os cães o passado só aparentemente nos pertencem
[15] pense em como do lodo primeiro surgiu esta poltrona este livro
este besouro este vulcão este despenhadeiro
à frente de nós à frente deles
corre o cão
ANA MARTINS MARQUES
O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
aos cães domesticados se ensina a andar sempre atrás do dono mas os cães
o passado só aparentemente nos pertencem (v. 12-14)
Nesses versos, sugere-se uma ideia a respeito da relação entre cães e seres
humanos.
Essa ideia, no verso destacado, recebe da poeta a seguinte avaliação: