VITOR E SEU IRMÃO
Luis Fernando Veríssimo Não era prevenção. A professora tinha o cuidado de tratar todos os seus alunos da mesma maneira. Pelo menos, se esforçava para isso. Mas, com o Vitor, ela sempre estava com um pé atrás. O Vitinho era um caso à parte.
— Qual é a população do Brasil?
Um aluno levantou a mão e leu a resposta que estava no livro.
— Cento e vinte milhões.
O Vitor levantou a mão. A professora sentiu um vazio na barriga. Lá vinha ele.
— O que é, Vitinho?
— Cento e vinte e um milhões.
— Por que, Vitinho?
— Minha mãe teve um filho esta semana.
Uma risadinha correu pela sala, mas o Vitor ficou sério. Estava sempre sério.
— Quantos filhos a sua mãe teve, Vitor?
— Até agora?
— Não, desta vez.
— Um. Mas dos grandes.
Outra risadinha, como marola na superfície de um lago.
— Então não são cento e vinte e um milhões. São cento e vinte milhões e um.
E a professora escreveu o número no quadro negro. Depois apontou para o um no fim do número e disse:
— Este aqui é o seu irmãozinho, Vitor.
Depois, antes mesmo de o Vitor falar, ela se deu conta de como aquele um parecia solitário no fim de tantos zeros.
— Coitadinho do meu ermão.
— Irmão, Vitor. E é claro que este número não é exato. Tem gente nascendo e morrendo a todo momento...
— Lá no hospital tava cheio de crianças. Será que já contaram?
— Não sei, Vitor, eu...
— Bota mais uns dois ou três pra acompanhá o meu ermão, tia.
Ela teve que rir junto com os outros.
— Você, hein, Vitinho? Com você eu tenho que ficar sempre com o pé atrás.
— Cuidado pra não cair pra frente, tia.
— Chega, Vitor!
Outro caso era o da Alicinha, que se espantava com tudo. Era só a professora dizer, por exemplo, que a capital do Brasil era Brasília e a Alicinha arregalava os olhos e exclamava:
— Brasília?!
— É, Alice. Por quê?
— Nada.
Depois ficava com aquela cara de que só ela era certa num mundo de loucos, onde se viu a capital do Brasil ser Brasília, mas era melhor deixar para lá.
Um dia, a professora disse que o Brasil tinha 8.000 km de costa marinha e ficou esperando a reação da Alicinha. Nada.
— O Brasil é banhado pelo Oceano Atlântico.
— Atlântico?!
— É, Alice.
— Desde quando?
— Desde sempre, Alice.
— Eu, hein?
“Eu, hein” era mortal. “Eu, hein” era de matar, mas a professora precisava se controlar. Entre o Vitinho e a Alicinha ainda acabaria louca.
Revista Ciência Hoje das Crianças, ano 17, n. 145, abr. 2004.
a) Complete o quadro com características das personagens do texto.
O que esse aluno fazia na sala de aula que incomodava a sua professora Como a professora reagia às suas atitudes
Vitinho
Alicinha
b) Copie uma parte do texto que mostra que era comum Vitinho ter aquele tipo de comportamento.