A Barbie
Quem dá uma Barbie para uma criança põe a criança numa arapuca sem saída. Porque, ao ter uma Barbie, ela ingressa no Clube das Meninas que têm Barbie. E as conversas, nesse clube, são assim: Eu tenho o chalé de praia da Barbie. Você não tem. Ao que a outra retruca: Não tenho o chalé, mas tenho o marido loiro da Barbie, que você não tem.
Essa é a primeira lição que a inofensiva boneca de plástico ensina. Ensina a terrível fala do eu tenho, você não tem. A maldição das comparações. A maldição da inveja. Você deve conhecer alguns adultos que fazem esse jogo. Haverá coisa mais chata, mais burra, mais mesquinha? Ao dar uma Barbie de presente, é preciso que você saiba que a menina inevitavelmente aprenderá essa fala. [...]
Mas há uma saída. E, para ela, procuro sócios. Vamos começar a produzir o próximo e definitivo complemento para a bruxa de plástico: urnas funerárias para a Barbie. Por vezes o feitiço só se quebra com o assassinato da feiticeira – por bonitinha que ela seja...
A Barbie. In: ALVES, Rubem. Teologia do cotidiano: Meditações sobre o momento e a eternidade.
1. ed. São Paulo: Editora Olho d’Água, 1994. p. 24-25.
O autor defende o ponto de vista de que