Os Músicos de Bremen
Era uma vez um burro que durante anos e anos serviu ao moleiro, seu dono, carregando pesadas sacas de grãos. Nessa faina, foi envelhecendo, suas forças enfraquecendo, até que um dia o moleiro pensou: “Esse aí não serve mais pra nada... O melhor é matá-lo, vender sua pele e arranjar um burrico mais jovem”. O burro não ficou sabendo disso, mas percebeu que a sua situação estava perigando e decidiu: “Vou para Bremen. Lá poderei ganhar a vida como músico”. E saiu pela estrada, descansando aqui, comendo um capinzinho ali, até que encontrou um cão de caça estirado no caminho ofegando como se tivesse corrido quilômetros e quilômetros. — Que é isso, companheiro? Por que está assim tão esbaforido? — Ai! Ai! — gemeu o cão. — Meu dono resolveu acabar comigo, porque estou velho e não posso mais tomar parte nas caçadas. Fugi e não sei o que vai ser de mim! — Venha comigo! Estou indo para Bremen e, lá, vou ser músico. Nós dois podemos formar uma boa dupla. Eu toco alaúde e você, bumbo. Gostando da ideia, o cão acompanhou-o. Mais adiante, encontraram um pobre gato com a cara mais triste que uma semana de chuva. — Que cara é essa, meu amigo! — exclamou o burro. — Por que está assim sorumbático? — Que cara queria que eu fizesse? — E o gato contou: — Minha dona resolveu me afogar, porque estou velho, meus dentes estão gastos, e prefiro ficar ronronando ao pé do fogo em vez de caçar ratos. Então fugi e não sei mais o que fazer. — Tenho uma ótima ideia! Venha com a gente. Vamos para Bremen, onde poderemos ganhar a vida como músicos. Você, que é especialista em serenatas noturnas, vai ajudar muito. O gato entusiasmou-se e acompanhou-os. Mais adiante, passaram por um sítio e viram um galo empoleirado na porteira, cantando desesperadamente com quantas forças tinha. — Pare com isso! — pediu o burro. — Seus gritos varam a alma da gente! Por que canta assim? — É o meu jeito de profetizar bom tempo — explicou o galo. — Hoje é dia de a minha dona lavar as fraldinhas do bebê e tem que ter sol para secá-las. Mas amanhã... Amanhã é domingo, ela vai receber convidados para o almoço e, pobre de mim! Vou ser servido assado. Estou cantando pela última vez porque hoje à noite vou ser degolado! — Deixe disso, Crista-Vermelha! — disse o burro. — Venha com a gente! Vamos para Bremen, e lá, com sua bela voz, podemos formar um conjunto musical que vai ser um sucesso! Maria Heloisa Penteado (Jacob Grimm e Wilhelm Grimm). Os Músicos de Bremen. São Paulo: Ática, 2012. p. 2-4
. Vocabulário:
Faina – trabalho prolongado, desgastante.
Estirado – deitado, esticado.
Esbaforido – afobado, ofegante, apressado.
Alaúde – instrumento de cordas dedilhadas, de origem árabe
O burro, o cachorro, o gato e o galo se juntaram para