EXPERIMENTAÇÕES ARTÍSTICAS EM REDES TELEMÁTICAS E WEB
Gilbertto Prado
- 1. INTRODUÇÃO: ARTE E TELECOMUNICAÇÕES DOS ANOS 70 AOS 90
Na medida em que valorizava a comunicação, a Arte Postal é o primeiro movimento da historia da arte a ser verdadeiramente transnacional. Esta é a razão de não podermos falar de redes artísticas sem nos referirmos a mail-art. Reunindo artistas de todas as nacionalidades e inclinações ideológicas, partilhando um objetivo comum, tratava-se de experimentar novas possibilidades e intercambiar trabalhos numa rede livre e paralela ao mercado "oficial" da arte. A mail-art é certamente uma das primeiras manifestações artísticas a tratar com a comunicação em rede, a grande escala(1). Ela encontra suas origens em movimentos como o Néo-Dada, Fluxus, Novo Realismo e o Gutai. O ano de 1963, data de fundação do "New York Correspondence School of Art" pelo artista Ray Johnson, pode ser considerado como "data de nascimento" da Arte Postal.
Igualmente, no início dos anos setenta já existia por parte de alguns artistas a vontade e a intenção de utilizar meios e procedimentos instantâneos de comunicação e suportes "imateriais". Não se desejava mais trabalhar com o lento processo de comunicação postal, era preciso fazer depressa e diretamente, passar do assíncrono ao sincrônico. O desejo de instantaneidade, de transmissão em direto, as questões de ubiqüidade e de tempo real já estavam presente nessa época. Uma outra particularidade dos anos 70, era a característica "instrumental"(2). Nessa época, se começa a estabelecer e desenvolver as bases de uma relação entre arte e telecomunicações, com artistas que criam e desenvolvem projetos de ordem global. Nesse período, experiências em arte e telecomunicações proliferaram, utilizando satélites, SlowScan TV (televisão de varredura lenta), redes de computadores pessoais, telefone, fax e outras formas de reprodução e de distribuição utilizando as telecomunicações e a eletrônica(3).
Apesar do embrião da Internet ter surgido em 1969 com a Arpanet, a utilização artística das redes de computadores, começa a ser trabalhada de maneira sistemática somente à partir de 1980. Entre essas primeiras manifestações, Robert Adrian propôs um evento chamado Artbox - uma rede artística de "correio eletrônico" -, com ajuda da companhia multinacional I.P. Sharp sediada no Canadá(4). Mais tarde, Artbox, vai se tornar Artex, uma das pioneiras das redes artísticas eletrônicas de acesso internacional, que foi a base de inúmeros projetos de telecomunicação.
Cabe ainda assinalar que a maior parte dos eventos em arte e telecomunicações utilizando computadores e/ou outros meios anteriores a Internet eram realizados à partir de redes efêmeras, especialmente estruturadas para o evento. Eram propostas de artistas que se reuniam pontualmente para essas participações: eram disponibilizados computadores e modems para esses fins específicos em diferentes locais do planeta que se comunicavam entre si via telefone formando uma rede única e "dedicada". Uma vez o evento transcorrido, esse "grupo de participantes" e a "rede" estabelecida, deixava de existir seja enquanto estrutura de comunicação, seja enquanto grupo de ação artística. No caso particular da Internet, uma vez que a ação termine, mesmo com a "dissolução" do grupo, a estrutura de comunicação se mantém.
Com a Internet existe inclusive a possibilidade de se ter espaços de interação permanentes - mesmo que a participação das pessoas seja pontual e efêmera - como é o caso de vários Sites que funcionam como espaços de Exposições Eletrônicas. Além do "endereço" desses Sites, esses espaços podem ser localizados por ferramentas de busca, ou seja disponível a qualquer pessoa que tenha acesso à rede, em contrapartida aos eventos anteriores onde para se formar o grupo da ação artística, os contatos eram muito mais longos e mediados por cartas, telefones, fax e contatos pessoais, ou seja ficavam mais restritos a grupos de atuação específicos. Evidentemente, na Internet esses grupos acabam também se formando por simetrias e/ou interesses precisos, mas a veiculação e a informação dessas possibilidades para possível participação são muito mais "abertas" e dirigida a todos interessados. Igualmente o grau de facilidade para se reunir esses grupos e disponibilizar a criação de um evento em rede, assim como sua divulgação são enormemente agilizados: o grau de virtualização desses contatos é muito maior ao mesmo tempo que a disponibilidade dos equipamentos e utilização dos mesmos é crescente e se banaliza.
Bom número de trabalhos que circula pelas redes já têm a possibilidade de atingir um público geograficamente disperso, independentemente da frequência com que esse público acessa e/ou participa de conferências artísticas on-line ou utiliza seu computador para navegar em "galerias eletrônicas". Os tempos são outros de quando os artistas acreditavam que era suficiente colocar os trabalhos ao alcance de todos (como tentaram e/ou acreditaram vários artistas dos anos 60 e 70). Mais "realistas", os que hoje experimentam com os novos meios de difusão, procuram menos esse grande público, quase mítico e sonhado, por um público que tenha mais afinidades com suas idéias e propostas. É o espectador que "estabelece o contacto da obra com o mundo exterior, decifrando e interpretando suas qualificações profundas e desta maneira adiciona sua própria contribuição ao processo criativo", como dizia Marcel Duchamp(5).
http://www.iar.unicamp.br/disciplinas/ap858/AXILA/paggilberttoprado.html
Compartilhe as informações acima e discuta com a turma sobre a origem da arte interativa, de que outros movimentos ela deriva, quem foram os artistas precursores dessa arte. Sugira que pesquisem sobre esse tema em livros, revistas, jornais e sites da internet.
Divida a turma em grupos e peça que cada grupo escolha uma obra de arte de um desses artistas precursores da arte interativa e trabalhe a imagem da obra em um programa de imagem da seguinte forma: fragmente a imagem como um quebra-cabeça e monte de outra forma criando uma nova obra, depois do trabalho pronto combine uma apresentação mostrando o antes e o depois. Esse trabalho pode ser feito em conjunto com o professor de informática.