Explicaê

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Leia-o e observe-o com muita atenção.

 

A inveja dos nomes

  

             Vira-lata sou. Cão sem dono. Esta condição de cão sem dono foi um dos complexos da minha vida longo tempo. Sem dono e sem tempo.  

            Filho de pai desconhecido (só os colegas de coleira, arrumadinhos e até perfumados, cachorrinhos de enfeite, têm pai registrado) cresci ao acaso das ruas. Não me lembro muito da primeira infância. Pela contagem dos homens devo ter doze ou quatorze anos, sou quase um velho. Pelo menos foi isso o que ouvi, não faz muito, de dois caras que me observavam com ar de entendidos. Um deles dizia:  

            - Esse bicho é velho pra cachorro!

            Olhei com desprezo os dois infelizes. Idade não se mede pelo tempo vivido (eu sei que foi muito), mas pelo desgaste deixado. Eu sou o mesmo que era há não sei quanto tempo. A mesma disposição, a mesma alegria, a mesma coragem na luta pela comida difícil, a mesma rapidez no revolver uma lata do que os homens chamam lixo (eles desperdiçam demais, felizmente), a mesma satisfação em encontrar uma colega eventual, para perpetuar a raça. Tenho a mesma ligeireza no fugir ao fantasma das carrocinhas que têm levado tantos dos nossos irmãos para destinos incertos. A mesma capacidade de evitar os colegas atacados pela raiva, que eu tão cedo aprendi, nos dias longínquos da inexperiência, quando ainda me agoniava por não ter nome nem dono.  

            Mas eu sofri muito nos primeiros tempos, confesso. Casa não tinha. Era quase sempre enxotado dos lugares onde me escondia. Os outros moravam em casa de gente (eu descobri depois que a casa era um caixote no quintal ou um buraco embaixo do tanque de lavar roupa e não um quarto especial, como diziam). E tinham esta coisa que me causava a maior inveja: eram “chamados”...

            - Leão (Nome de bicho e de gente, como atrás falei).

            - Lobo (Um cachorro como os homens de igual sobrenome. Tinha nada de lobo...).  

            - Valente (Foi o cachorro mais covarde que eu conheci...).

            - Bob (Nome de homem, que pra mim não honra cachorro nenhum.).  

  

Fonte: LESSA, Orígenes. Confissões de um vira-lata. 33ª. Ed. – Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p. 19 e 20. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=CJlxgT7ts1wC&pg=PA8&lpg=PA8&dq=trecho+do+livro+co – acesso em 15/5/2010 – adaptado.

  

Vira-lata sou. Cão sem dono.

 

Segundo a fala do narrador, também personagem do livro “Confissões de um vira-lata”, que diferença há entre as duas classes de substantivos comentadas no texto: Substantivo Comum  (vira-lata, cão) e Substantivo Próprio  (Bob, Valente, Lobo – nome de um cachorro – etc.)?