Explicaê

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O texto I é um trecho do livro “Por parte de pai” e o texto II é uma entrevista com Bartolomeu Campos de Queirós.  Analise-os e resolva às questões

 

TEXTO I

Por parte de pai

  

Enquanto ele escrevia, eu inventava histórias sobre cada pedaço da parede. A casa do meu avô foi meu primeiro livro. Até história de assombração tinha. Era de Maria Turum, preta que foi escrava, não sei se veio de navio negreiro, e ajudou a criar os filhos. Antes de morta, já tinha bicho no corpo de tanto ficar na cama, fraca, inválida, velha. Eu olhava para ela e pensava que viver era encolher, diminuir, subtrair. Cada dia ela ficava menor. Maria Turum, segundo meu avô, só gostava da cor branca. Lençol branco, arroz-doce, leite com farinha, farinha com açúcar, pipocas e suspiros.

Meu avô, sem duvidar das proezas da mulher, continuava a escrever pelas paredes. Não, não era um livro de horrores, a casa do meu avô. Contava caso de trapezista de circo desrespeitando moça assanhada de família; até milagre, como o da imagem de Sant’Ana, chorando e as lágrimas curando verrugas, na capela do Senhor Bom Jesus, da rua da Paciência, estava registrado.

História não faltava. Eu mesmo só parei de urinar na cama quando meu avô ameaçou escrever na parede. O medo me curou. Leitura era coisa séria e escrever mais ainda. Escrever era não apagar nunca mais. O pior é que, depois de ler, ninguém mais esquece, se for coisa de interesse. Se não tem interesse, a gente perde ou joga fora. Um dia Milicão pediu o serrote emprestado. Meu avô disse estar muito cheio de dentes. Milicão foi embora e meu avô escreveu a história na parede. Depois Milicão voltou e disse que serrote tem dentes mesmo. Das gemas, minha avó batia gemadas com canela e nos servia quente para suar as gripes e resfriados. A fumaça cheirosa penetrava no nariz e não saía mais da cabeça.

 

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Por parte de pai. Belo Horizonte: RHJ, 1995. p.12-14.Adaptação

 

 

TEXTO II

 

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ENTREVISTA A BARTOLOMEU CAMPOS DE QUEIRÓS

   Confira a entrevista com o premiado escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós e saiba por que seus mais de 40 livros publicados encantam e entrelaçam natureza, literatura e educação  

   

Bartolomeu Campos de Queirós nasceu na cidade de Papagaio, no interior de Minas Gerais. Peregrino de corpo e mais ainda de alma, viajou o mundo. Para ele viver a voar para longe de tudo o que possa ser contido, limitado, rotulado – talvez por terem sido as paredes da casa de seu avô o seu primeiro caderno. Enfrentar os limites de um papel pode ter sido difícil, mas resultou no premiado escritor que sabe embrulhar para presente os mais belos, sutis e indizíveis sentimentos humanos com a paciência feliz de quem ama a musicalidade das palavras que não podem ser buscadas; apenas podem ser encontradas por gente sábia e rara como Bartolomeu Campos de Queirós.  

   

  Ecofuturo – O que a família, a escola e os educadores podem fazer para que as crianças aprendam a selecionar o que é realmente sustentável em suas vidas?  

  Bartolomeu    – Tanto família como escola, como toda a sociedade, devem viver em harmonia com seu entorno, fazendo de tudo para apreender o que cada elemento, cada objeto nos tem a ensinar. “Ler o mundo” é a alfabetização mais necessária e complexa; é estar atento, todo o tempo, diante deste grande livro sem texto que é o mundo e seus enigmas.  

   

  Entrevista com Bartolomeu Campos de Queirós. Disponível em: http://www.ecofuturo.org.br/comunicacao/publicacoes/bartolomeu-campos. Acesso em: 15 de jul. de 2009. Adaptação.  

   

Considerando a entrevista, explique o que significa o mundo para Bartolomeu Campos de Queirós.