Não-coisa
O que o poeta quer dizer no discurso não cabe e se o diz é pra saber o que ainda não sabe.
[5] Uma fruta uma flor um odor que relume...
Como dizer o sabor, seu clarão seu perfume?
Como enfim traduzir [10] na lógica do ouvido o que na coisa é coisa e que não tem sentido?
A linguagem dispõe de conceitos, de nomes [15] mas o gosto da fruta só o sabes se a comes (...) No entanto, o poeta desafia o impossível e tenta no poema [20] dizer o indizível:
subverte a sintaxe implode a fala, ousa incutir na linguagem densidade de coisa [25] sem permitir, porém, que perca a transparência já que a coisa é fechada à humana consciência.
O que o poeta faz [30] mais do que mencioná-la é torná-la aparência pura – e iluminá-la.
Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
[35] O poema é uma coisa que não tem nada dentro, a não ser o ressoar de uma imprecisa voz que não quer se apagar – essa voz somos nós ferreira gullar Cadernos de literatura brasileira. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 1998.
O poema sugere que o saber está relacionado à experiência.
Essa relação encontra-se expressa principalmente nos seguintes versos: